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FICÇÃO CIENTÍFICA  -  FANTASIA  -  TERROR.


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Terrorista

- Ana - eu começo, e hesito, sem saber como continuar, e então decido dizer tudo de uma só vez - Você é uma terrorista?

A mulher que eu pensava conhecer apenas sorri, e leva um guardanapo ao rosto, limpando tranqüilamente os lábios. Eu me pergunto se ela é realmente tão controlada, ou se programou sua projeção para não demonstrar surpresa.

- Bom, querida, para responder, primeiro tenho que saber qual a definição de terrorismo que estamos usando? - ela coloca o guardanapo calmamente de volta na mesa, e pega mais um sashimi.

- É verdade, não é? Você só se aproximou de mim para ter os meus acessos? Você está por trás do vírus?

- Sim. - Era a única resposta que eu não esperava ouvir. Não daquela forma singela, como se fosse algo sem importância. Ela molha o sashimi no molho e depois o leva a boca.

- E eu fui apenas uma tola, acreditando que você me amava. - Minha voz soou fria e controlada.

- Você é muitas coisas, Mary. Inteligente, criativa, divertida, até ingênua, em certos aspectos. Na verdade, foi isto que me atraiu em você, em primeiro lugar. Mas você não é tola. E você está certa em acreditar que eu te amo.

- Ah, e quer que eu acredite nisto, agora? - Repito para mim mesma que manterei a calma. Eu vim para ajudá-la, não para brigar. Por isto, que havia pedido o tempo de uma conversa, antes que cortassem ela da rede.

- Você acredita. - Ela encosta a mão sobre a minha, a sensação na luva quase como se ela estivesse realmente na minha frente. - se não acreditasse não estaria aqui. Teria apenas dito para me tirarem da rede.

- É o que eles vão fazer, de qualquer forma. E vão localizar você, e prendê-la. E vão obrigá-la a dizer tudo que sabe sobre a rebelião, e vão deter o vírus antes que cause mais estragos. Depois vão mandá-la para um campo de reeducação. Você não tem idéia do que é aquilo lá - "Droga", eu digo para mim mesma, enquanto meus olhos se enchem de lágrimas. Eu havia prometido que não iria chorar.

- Está tudo bem, Mary. Não importa o que façam comigo, não será culpa sua. Eu sei que você tentou me proteger.

- Eu posso proteger você - eu falo, dando ênfase ao "posso". - foi para isto que vim. - "não porquê te amo e queria te ver novamente", minha mente fala, brincando comigo.

- Receio que esteja enganada, Mary. Não creio que possa me proteger. Eles vão me tirar da rede, eles não têm outra escolha. A esta altura eles já devem ter percebido que sou ainda melhor que você em navegação. - Ela fala com uma simplicidade de algo que deveria ser praticamente impossível. Eu fui geneticamente criada e treinada por todos os meus 17 anos para ser uma das melhores navegadoras da rede. Havia menos de dez tão bons quanto eu. Não deveria, não poderia haver ninguém melhor. Eu estava muito próxima do limite que um cérebro humano poderia chegar de entender e controlar a rede.

- Ana, é claro que eles vão tirar você da rede - será que ela era mesmo melhor do que eu? como? - mas você pode ficar comigo. Fisicamente, eu quero dizer. - "E não me importa se você tem 70 anos, é obesa, ou mesmo é um homem", eu penso em silêncio.

- Fisicamente? - ela sorri, como se isto a divertisse.

- Sim. Eles não vão mandá-la para a reeducação. Eu pedi, como um favor pessoal. Fora da rede, não tem muito que você possa fazer, e eles vão monitorá-la, é claro, mas você pode morar comigo. Você só vai precisar dizer o que sabe. Eles só precisam ter algumas informações sobre o vírus para poder desativá-lo - Será que ela ajudou a construir o vírus, o programa quase inteligente que vinha desafiando os controles do governo?

- Receio que as coisas não sejam tão simples.

- Porquê? Você não vai estar traindo ninguém. Quer dizer, eles já tem seu acesso. É só uma questão de horas para localizarem você, e depois eles tirariam toda a informação de seu cérebro de qualquer maneira. Na verdade vão fazer isto, se não quiser colaborar. Mas depois vão soltá-la, e poderemos viver juntas. - "ela não ama você, sua estúpida", meu cérebro fala. Eu mando ele calar a boca.

Ela sorri, e pela primeira vez seu sorriso é triste. - Eu não me refiro a isto. Eu apenas receio que não existe como nós estarmos juntas fora da rede.

- Porque não? É meio século XX, mas quem se importa? Eu sei que vai ser horrível estar fora da rede, mas não tem o que eu possa fazer quanto a isto. Se você está preocupada, eu não me importo com o que você se parece, basta que possamos estar juntas.

- Eles vão destruir o vírus. Eles não podem permitir que ele exista, é uma força contra o controle, um programa inteligente que desafia esta ditadura que governa o mundo.

- Ana, não há nada que possamos fazer. É impossível enfrentar o governo, eu sei - um calafrio me percorre quando me lembro do centro de reeducação - eles controlam a rede. Deixe que eles destruam o vírus e tirem você da rede. Pelo menos fisicamente podemos ficar juntas.

- Mary, lamento. Eu não posso estar com você fora da rede.

- Porquê?

- Por que eu sou o vírus.

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