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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Os Cinco Não Vivos - Parte 2 de 5: Kabet

Kabet

Um grito estava trancado em minha garganta, prestes a sair. A luz do quarto estava acesa, porque eu estava com medo de dormir no escuro. Um demônio estava sentado, nos pés da cama, de pernas cuzadas. Uma de suas mãos estava com o indicador cruzando os lábios.

- sshhh - ele emite um som para me fazer ficar em silêncio - se você gritar, sua mãe vai vir correndo até o quarto, e nós podemos querer matá-la. Melhor meu amigo ficar em silêncio. Você quer que sua mãe viva, não?

Eu acenei que sim com a cabeça, meu olhos arregalados, o coração batendo acelerado, retumbando em meu peito. Suor escorria de minhas mãos. Eu nunca havia sentido tanto medo em minha vida.

- Eu peguei um pedacinho bem pequeno de seu cérebro - ele levantou a outra mão e me mostrou algo que segurava entre o polegar e o indicador. - acho que você nem vai dar pela falta. - Ele abriu sua boca e colocou dentro o que quer que fosse (um pedaço de meu cérebro???), e então mastigou e engoliu.

- Ahhh, delicioso, mas tão pequeno que nem dá para matar a fome - Ele sorriu. E então ficou em silêncio, apenas me olhando por um longo tempo, seus olhos atentos, como se estivesse me examinando. Ele era exatamente como Claudia havia dito, gordo e careca, e faltava um pedaço de seu crânio, permitindo ver um pedaço de seu cérebro.

- O que vai fazer comigo? - Eu finalmente reuni coragem para falar, pois ele parecia disposto a apenas ficar ali, me olhando. Minha voz gaguejante, as palavras não querendo sair.

- Eu já fiz. - Ele ajeitou as pernas e sorriu um sorriso medonho. Sua voz, porém, parecia tranquila e descontraída quando recomeçou a falar - sabe, o cérebro humano é uma máquina fantástica, e é preciso muita habilidade para desmontá-lo com precisão. As memórias, a inteligência e os sentimentos não estão agrupados em cantinhos separados, mas espalhados por todo lugar, e é preciso muita habilidade para juntar e retirar exatamente o que queremos. E cada parte tem um sabor próprio, único. Se provasse, você iria adorar.

Eu fiquei em silêncio, o medo dominando tudo em mim. Minha visão começou a se afunilar, escurecer, e eu senti que estava quase a desmaiar.

- Você não está curioso em saber que parte de seu Cérebro eu comi? - Ele diz, sorrindo. Eu nem me movi, paralisado de medo.

- Não se preocupe, não foi nada importante. Alguns até diriam que lhe fiz um favor. Sabe, existe uma parte do homem, alguns chamariam de sua alma, que veio direto de Deus. É como se um pedacinho de Deus fizesse parte de cada ser humano. É este pedacinho que faz algumas pessoas se sentirem especiais quando rezam, é a parte que lhes permite falar diretamente com seu criador. Foi esta parte que eu comi.

Ele se aproximou então de mim, seu rosto chegando a centímetros do meu - Mas não se preocupe, todo ser humano tem outra parte de si que veio direto da serpente, do demônio. Alguns dizem que é a parte que lhe dá seu livre arbítrio. Pessoalmente acredito que é uma muito mais importante. Esta eu não toquei.

Ele estendeu sua mão até encostar em meu rosto. Eu quase gritei, mas lembrei que ele disse que minha mãe morreria se entrasse no quarto.

- Durma agora - ele disse - amanhã Matat vai querer conhecê-lo.

Ele fechou meus olhos com sua mão, e tudo ficou escuro.

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