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FICÇÃO CIENTÍFICA  -  FANTASIA  -  TERROR.


domingo, 20 de novembro de 2022

O Preço

Escrito para um concurso literário do Recanto das Letras...temas LGBT e Vampiros



Primeira Hora. 

Dois homens e uma mulher estavam sentados ao redor de uma mesa, em uma sala vazia, centenas de metros abaixo da terra. Aparentavam vinte e poucos anos. Os homens dividiam uma garrafa de vinho. A mulher bebia vodca. Por um bom tempo eles não falaram nada. O clima era tenso.

Um dos homens estava chorando. Foi ele quem primeiro quebrou o silêncio.

- Nós vamos morrer. Vamos todos morrer.

- Nós não vamos morrer, Paulo - o segundo homem respondeu - nós vamos apenas ficar aqui do nascer ao pôr do sol, e nada vai acontecer.

O homem, Paulo, enxugou as lágrimas com as costas da mão direita. - Paulo... 10 anos que ninguém me chama assim.

- Ah, sim - a mulher falou pela primeira vez - como é, mesmo? Jarbas, o Místico?

- Zarba, o Místico! - ele corrigiu.

- Então - o outro homem falou - você garante que nenhum tipo de criatura vai conseguir atravessar estes rabiscos que você fez, certo? - Ele apontou para o chão e as paredes, marcados por desenhos em cor vermelha.

- Ótimo - a mulher interrompeu antes que ele terminasse - estamos em um maldito filme de terror - ela bebeu um gole de vodca.

- Nós fizemos um pacto com o diabo há 10 anos, Laura.  Acho que a parte de estarmos vivendo um filme de terror já está bem clara para todo mundo.

- A ideia foi sua, Lucas...a ideia foi sua - em um último gole, ela esvaziou o copo.

- E agora a gente vai morrer....

- Ninguém vai morrer, Paulo. Já disse que ninguém vai morrer!

Paulo se levantou e apontou o dedo para Lucas - Um pouco tarde para isso. Pessoas já morreram.

- Eu sei que pessoas já morreram - Lucas falou lentamente - todos perdemos alguém - e continuou, falando ainda mais lentamente, a lenta cadência  dando uma ênfase a cada palavra - mas...nós...não...vamos...morrer.

Enquanto Paulo se sentava novamente e voltava a chorar, Laura se serviu novamente e falou - como você tem tanta certeza disso?

- Nós estamos no lugar mais protegido que o dinheiro - o meu dinheiro - pode comprar. Uma bomba nuclear poderia explodir lá em cima e a gente ainda assim ia sobreviver. E os rabiscos do nosso amigo chorão vão impedir qualquer criatura de entrar nessa sala.

- Não vai dar certo - Paulo falou, baixinho, enquanto enxugava novamente as lágrimas.

- Por que não daria? Você mesmo disse que se sobrevivermos até o anoitecer, não há nada que o Diabo possa fazer.

- Não sabemos se é o Diabo - Laura interrompeu.

- Não temos como vencer - Paulo continuou - alguma coisa vamos ter esquecido. Talvez falte ar, ou se esqueçam de nós e ficamos presos para sempre aqui, ou ele faça a gente achar que já passou o tempo e saia antes. Ou ele convença alguém a abrir a porta. Tem mil maneiras dele nos pegar.

Lucas olhou para cima e respirou fundo. Depois respondeu, como um professor falando para uma criança - O suprimento de ar é independente, a porta vai abrir daqui a umas 20 horas, bem depois do tempo em qualquer fuso horário do mundo, e ninguém aqui dentro ou lá fora pode mudar isso. Eu pensei em tudo.

- Se tivesse pensado em tudo, sua esposa estaria viva. E minha filha também - e Paulo colocou o rosto entre as mãos.

- Eu não tinha como saber que elas estavam em perigo.

- Sempre há um preço - a mulher falou, baixinho.



A Esposa


Ela ainda se perguntava se era um sonho e iria acordar a qualquer momento. Quem diria que aquele garoto pobre que vivia tentando conquistá-la iria se tornar um dos homens mais ricos do mundo.

Ela lembrou o dia que viu pela primeira vez a foto dele na capa de uma revista. A sensação de ter feito uma imensa tolice ao não ter dado nenhuma chance para ele tomou conta dela. Mas, também, quem poderia imaginar? Ele não tinha nem onde cair morto.

Foi em um impulso que ela ligou...quem sabe ainda havia tempo de consertar o erro.

E agora, 5 anos depois, ela estava casada, grávida, e não poderia ser mais feliz.

Mas alguma coisa estava errada. Ele estava estranho de um jeito que ela nunca tinha visto.

- Você não está me escondendo nada, não é? Nenhuma doença ou algo do tipo?

- Claro que não, querida. Só estou dizendo onde estão as senhas do banco caso aconteça alguma coisa. Ninguém nunca sabe o dia de amanhã.

Ele falou isso e parecia tão calmo, mas ele sempre parecia calmo. Ela não se lembrava de tê-lo visto com raiva ou preocupação uma única vez em todos estes anos. Mas ele se revirou a noite inteira. E tinha aquela coisa de ele dizer que ia fazer uma viagem em uns dois dias e ficar incomunicável. Ela não estava preocupada que ele tivesse uma amante ou algo do tipo, ela tinha certeza que ele era fiel, mas ainda assim era estranho.

Pelas três da manhã ela se levantou para pegar um copo de água. Não conseguia dormir com ele se revirando e falando no sono. Ela até tentou ouvir, mas não era nada inteligível, exceto uma palavra, de tanto que repetiu...preço. Preço do quê? Só um pesadelo, coitado.

Ela desceu as escadas, foi até a cozinha, abriu a geladeira, pegou um copo de água…

E deixou cair no chão, quando ouviu uma voz atrás dela.

- Oi Silvia...

Ela tentou falar, mas a voz não saiu....como alguém podia ter entrado, passado por todos os seguranças...quem era? ela conhecia? O rosto era familiar.

A pessoa deu um passo à frente, e ela recuou um passo, encostando as costas na geladeira

Ela ia gritar, mas a voz não saiu.

Ela ia correr, mas não conseguia se mexer.

Os olhos pareciam hipnotizantes, e ela começou a respirar acelerado. Era a única coisa que conseguia fazer, respirar cada vez mais rápido.

- Não vai doer. Eu prometo. - A mão acariciou seu rosto, depois passou pelo pescoço. Então a boca se aproximou.

Ela sentiu os lábios tocando seu pescoço.

E então não sentiu mais nada.



Terceira Hora


- Encontrei ela morta. Uma mordida no pescoço, sangue por todo lado. Nós estamos mesmo em um filme de terror, Laura - Lucas apontou para ela com a taça na sua mão, depois olhou para o outro homem na mesa - Você é o especialista, Paulo. Foi um vampiro?

- Foi. Foi um vampiro. E ele pegou minha filha também.

- Por quê? O prazo não tinha começado ainda. Os exatos 10 anos do pacto começaram 3 horas atrás.

- A regra é para nós, não para outras pessoas. Estava no acordo que fizemos. Em 10 anos o Diabo viria nos pegar, no exato dia que fizemos o acordo. E se sobrevivermos do nascer ao pôr do sol estamos livres para sempre.

- Eu não acho que seja o Diabo - a mulher falou. 

- Por que não? - Lucas perguntou.

- Quem era, então? - Paulo perguntou ao mesmo tempo.

Ela encolheu os ombros - Deus, talvez? Quem disse que Deus tem que ser bonzinho.

- A Biblia - respondeu Paulo.

- Você já leu a Biblia?

- Isso não importa - Lucas interrompeu - o que importa é que tem um vampiro atrás de nós. E você tem certeza, Paulo, que é a única coisa que vai tentar nos matar?

- Tenho. Está no contrato. Você não leu o contrato que assinamos?

- Quem que lê contratos? 

- Bom, era um contrato um pouquinho importante, não? Acho que valia a pena vocês terem dado uma lida antes de assinar.

- Talvez esta seja a saída - Laura falou - a gente não pode alegar que foi um contrato por adesão e impugná-lo?

Os dois olharam para ela. 

- Tenho certeza que o diabo tem todos os melhores advogados do mundo no inferno trabalhando para ele - Paulo respondeu.

- Vocês dois podem parar de falar bobagem. Isso é importante! - Lucas elevou a voz. E Lucas nunca, nunca, elevava a voz. Os dois pararam.

Ele continuou.

- Tem um vampiro. Ele matou minha esposa. Ele é a única criatura que vai tentar nos matar nas próximas horas. E ele não pode entrar aqui dentro, não pode passar por estas coisas que o Paulo desenhou nas paredes. Tem algum outro jeito dele entrar? Sei lá, virar névoa, descer pelo teto, qualquer coisa?

Paulo balançou a cabeça em um sinal de não - eu não sei o que ele pode fazer...eu nem sabia que existiam vampiros...se é que existiam...talvez tenha sido criado só para vir atrás da gente, não sei...mas o que sei é que não tem como ele entrar depois que eu fiz estas marcas - apontou para os riscos ao redor - só se saíssemos daqui.

- Não tem como sairmos antes do tempo. O sistema é automático. Se ele não entrar, estamos seguros.

- E se um de nós apagar os desenhos? - Laura perguntou

Paulo se levantou, foi até a parede, e passou a mão apagando uma das linhas vermelhas.

- Você ficou louco - os outros dois disseram ao mesmo tempo

- O desenho não importa mais. A proteção já foi feita. Por 20 horas nenhum ser perigoso para nós consegue atravessar estas paredes, teto, porta, chão. Não tem como.

- Então nós vamos escapar. 

Paulo balançou a cabeça - não. nós vamos morrer. Eu não sei como, mas ele vai achar um jeito.

- Você acabou de dizer que não tem como ele entrar.

- É o Diabo! Você acha que dá para vencê-lo? Ele vai nos pegar. Do mesmo jeito que pegou sua esposa. Do mesmo jeito que pegou minha filha.



A Filha


Nenhuma criança do mundo tinha tanta sorte quanto ela. O pai dela era um mago.

Não um mágico de palco. O que já seria bem legal.

Um mago de verdade. Tipo os do Harry Potter.

O pai dela era um mago de verdade, e fazia mágicas de verdade.

Mágicas tipo abrir uma porta para um mundo encantado, que ela podia ir e brincar quando quisesse.

E hoje ele disse que ela ia ficar no mundo encantado um tempão, mais de um dia inteiro. Ele nunca tinha deixado ela brincar lá mais de uma hora ou duas.

- Não há nada que possa fazer mal a você aqui - ele disse - todas as coisas aqui existem para cuidar e proteger você. Então não precisa ter medo de nada. O papai vai ficar só um dia fora e depois volta para pegar você, está bem?

Papai era bobo de achar que ela ia ter medo. Ela sabia que tudo era seguro no mundo encantado. 

As árvores que conversavam com ela.

Os animais falantes.

Todos eram amigos no mundo encantado.

Até aquela pessoa sentada na clareira que a chamou para sentar junto.



Quinta Hora


- Eu achei que ela ia estar segura - Paulo não olhava para os outros, mas sim para baixo, para a mesa, em que caíam suas lágrimas.

- E você a encontrou do mesmo jeito? - Lucas perguntou. Ele apenas acenou que sim.

- O que está feito, está feito. O importante é que estamos na melhor proteção que o meu dinheiro e seus poderes podem dar. Não dá para mudar o passado.

- Isso não é necessariamente verdade - Laura falou. Os homens olharam para ela.

- Dá para mudar o passado. Eu mudei - os dois  ficaram em silêncio, esperando ela continuar.

- Paulo pediu para ter poderes mágicos. Lucas pediu para se tornar um dos homens mais ricos do mundo. E eu...eu pedi para ser uma mulher.

- Como assim? - Lucas falou, enquanto Paulo começou a mostrar um semblante pensativo. - você sempre foi uma mulher. Desde criança você era uma guria.

- Exato. Nós crescemos juntos. Três amigos. Três meninos, amigos, que resolveram chamar o Diabo e ele apareceu. E eu pedi para ser uma mulher desde o nascimento. Para todo mundo, eu sempre fui uma mulher. Inclusive para vocês. Por que eu pedi isso. Meu pedido mudou o passado.

- Sério? Você gastou seu pedido nisso! Você podia pedir poder, dinheiro, e gastou nisso! Que que você tinha na cabeça?

- Eu sempre fui uma mulher. Só que eu estava no corpo errado, e você não tem ideia do que isso significa. A menor ideia do que é estar em um corpo do sexo errado.

- É isso! - Lucas e Laura olharam para Paulo, o semblante sereno pela primeira vez naquele dia. Resignado seria a palavra - É isso! Eu sei como o diabo vai nos matar.

- Como? - Lucas perguntou

- Nós podemos mudar o passado. Eu posso fazer isso. Eu posso mudar o passado. Basta a gente pagar o preço. É tão óbvio. Foi tão óbvio desde o início.

- Você não está fazendo nenhum sentido - Paulo olhou confuso. O rosto de seu amigo estava diferente, e ele não estava mais chorando.

- Ele quer fazer uma troca - Laura falou, lentamente. 

- Só eu que não estou entendendo?

- Nossas vidas. É apenas isso que o Diabo quer, nossas vidas. Ele sabia que a gente ia conseguir escapar, então ele preparou uma moeda de troca. Nossas vidas pelas das pessoas que amamos. Nós chamamos ele, e oferecemos nossas vidas em troca dele devolver a delas.



Sétima Hora


- Não

- É o único jeito, Lucas.

- Eu disse que a gente ia sair vivo daqui e a gente vai.

- Mas é o único jeito de trazer minha filha. De trazer sua esposa de volta.

- Não importa. Não vou fazer nenhum novo acordo. Elas estão mortas. Nós estamos vivos e vamos continuar.

Paulo e Lucas ficaram conversando e discutindo sem parar. Laura apenas bebia sua vodca, todo o tempo em silêncio, até que decidiu falar.

- Lucas, não é só você que perdeu sua esposa. Paulo perdeu a filha. Eu perdi uma pessoa importante para mim.

- Que pessoa? Você não disse até agora. Que pessoa você perdeu, Laura?

- Minha namorada.

Pauio interrompeu - Como assim? Como assim uma namorada? Você gastou o pedido para virar uma mulher e ficava com outra mulher?

Laura olhou para ele com fúria - Eu não disse que era um homem gay ou que queria ficar com homens, seu idiota preconceituoso, eu disse que era uma mulher em um corpo de homem. Eu não consigo acreditar que você não consegue entender a diferença.

- E ela morreu que nem minha esposa e a filha do Paulo? - Lucas perguntou.

Laura acenou com a cabeça, em silêncio, concordando - ela dormiu, e nunca acordou.



A Namorada


Alguma coisa em Laura fazia ela se sentir segura. Segura e amada. 

Ela adorava se aninhar nela, colocar a cabeça por cima do seu braço e simplesmente ficar ali, ganhando cafuné, relaxando até adormecer.

Foi o que aconteceu naquele dia.

A única diferença é que ela nunca acordou.



Nona Hora


- A gente devia transar

- Você é um porco, mesmo

Eles tinham parado de discutir. Lucas disse que não ia oferecer sua vida em troca de nada, e ponto final. Era isso.

Laura perguntou se podia trocar a sua vida pela da namorada, mas Paulo explicou que não era assim que as coisas funcionavam. 

Ou os três se ofereciam em sacrifício em troca das pessoas que perderam. Ou nenhum.

Ia ser nenhum.

Pelas duas horas seguintes não falaram muito. Não tinha clima.

Era só esperar. Esperar e beber.

- A gente vai morrer. Eu sei que a gente vai morrer. O Lucas não quer aceitar isso, mas você sabe, não sabe, Laura? Você sabe que a gente não vai escapar vivo, dessa.

- Sei. E daí?

- Daí que a gente está bêbado, e a gente vai morrer. A gente devia transar.

- Porra, imbecil, eu acabei de perder minha namorada. Em que mundo você acha que eu tenho cabeça para pensar e querer fazer isso. Ainda mais contigo?

- Experimenta! Você vai morrer sem saber que talvez na verdade goste de homem?

Laura colocou a mão na cabeça e suspirou. Mexeu um pouco a cabeça e tudo começou a girar. Estava bêbada mesma.

- Paulo, você é mesmo, mesmo, mesmo, um idiota homofóbico e preconceituoso. Por isso que eu nunca tinha falado pra vocês que queria ser uma mulher. Que era uma mulher em um corpo de homem. Antes de mudar o passado, quero dizer. Mas, pra tua informação, eu sou uma mulher bi. Você não ia ser o primeiro cara com quem eu transasse, ok.

- Mas eu posso ser o último. A gente vai morrer mesmo.

- Ninguém vai morrer. E ninguém vai transar. Vocês dois podem parar com esta conversa.

Laura se virou para Lucas - como você sabe que ninguém vai transar? A gente têm mais umas três horas aqui, e se a gente quiser passar este tempo transando é problema nosso. Por quê? Você não transaria comigo porque sabe que eu era um homem?

- Eu não transaria contigo porque você está bêbada. Além do que não tem nenhum quarto aqui e com certeza vocês não vão ficar transando na minha frente.

Laura olhou para ele. Olhou para Paulo. Encolheu os ombros.

- Tem o banheiro, Paulo. Se você estava falando sério, vamos ali. Ou era só papo?



Décima Hora


- Ainda não acredito que vocês fizeram isso.

Laura encolheu os ombros - Ainda tem umas duas horas, e depois a gente vai morrer. Se quiser também, por mim de boa.

- Já disse que ninguém vai morrer. 

- Bom, você também disse que ninguém ia transar - Paulo começou a rir, mas o riso terminou numa espécie de choro.

- É. E eu transei com o Paulo e nem gosto dele. E você eu tinha um crush até antes da gente fazer o pacto. Se a gente vai morrer mesmo, por que não?

- A gente não vai morrer. Mas mesmo que fosse, mesmo que eu achasse que a gente não ia escapar, não é por isso que eu ia começar a fazer merda que nem vocês estão fazendo.

Laura se levantou - transar comigo é fazer merda, é isso que você está dizendo?

- Não foi isso que eu quis dizer. Porra, eu acabei de perder minha esposa.

Laura se sentou novamente, colocou as mãos na cabeça e começou a chorar - E eu minha namorada. Você está certo, eu estou fazendo merda. 



Décima Segunda Hora


- Eu disse que a gente ia sobreviver

- Eu só vou acreditar quando tiver passado mais umas 10 horas. Não, mais uma semana.

Ouvindo os dois conversando, Laura sorriu, a mão segurando um copo vazio de vodca, mas era um sorriso sem alegria nenhuma. Ela tinha virado duas garrafas inteiras, para ver se desmaiava ou alguma coisa, mas sabia que não tinha funcionado.

- O Paulo estava certo e você errado, Lucas.

- Por que eu estava errado? O tempo está terminando.

Ela suspirou. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Que surpresa. Ela tinha achado que não tinha mais lágrimas.

- Você estava errado porque eu não pedi apenas para ser uma mulher...

Ela esperou um instante. Pausa dramática? Não, apenas uma tentativa de fazer o tempo passar, de, de alguma forma, conseguir segurar o bastante para dar a eles uma chance.

Mas não. A vontade era incontrolável, agora. Não havia nada a ser feito.

- O problema é que o Diabo, ou Deus, ou quem fosse que fez um pacto com a gente...

- O problema é que ele tem um senso de humor diabólico.

E ela sorriu, mas novamente era um sorriso sem alegria nenhuma.

- Eu não pedi apenas para ser uma mulher. Eu pedi para ser uma mulher eternamente jovem.

Era um sorriso sem alegria nenhuma, e com duas presas crescendo para fora da boca.


Temas: vampiros e LGBT

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