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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os Cinco Não Vivos - Parte 3 de 5: Kalith

De manhã, minha mãe me encontrou acordado, encolhido em um canto de minha cama, os olhos arregalados. Ela disse que era apenas um pesadelo, quando lhe contei, entre soluços e lágrimas, o que aconteceu. Depois me abraçou.

Ela só se tranquilizou quando fingi acreditar que era mesmo apenas um sonho ruim. Eu sabia que era real, mas também percebi que ela nunca acreditaria em mim.

Aproveitei a primeira oportunidade que ela me deixou sozinho para ligar para Claudia.

- Por favor, diga que acredita em mim, Claudia. Eles existem, mesmo. - Eu estava quase implorando, depois de ter contado para ela o que aconteceu.

- É claro que eles existem. O desafio de ontem era contar uma história assustadora, ninguém disse que não podia ser uma história verdadeira.

- Você não está gozando de mim, né? Eu realmente vi um deles, e não sei o que eu faço agora. - Tudo que eu queria era uma explicação, mesmo que absurda. Quem sabe alguma coisa que pudesse me proteger deles, ou alguém que pudesse ajudar.

- Ora, Julio, acho que agora você só tem que esperar pelo próximo não-vivo, quem sabe mais um não o visita esta noite. - Antes que eu pudesse responder, não que eu soubesse o que dizer, ela desligou o telefone, assim que terminou de falar. Eu liguei de volta para o celular dela, e ninguém atendeu. Liguei para o telefone fixo de sua casa e nada também.

Eu liguei então para Pedro, depois para Luiz. Tentei o celular, tentei o telefone da casa, mas nenhum atendia. Era sábado, não havia aula e ninguém disse que ia viajar. Não era normal.

Luiz morava umas três quadras na mesma rua, mas Pedro era praticamente meu vizinho, morava em um apartamento do outro lado da rua. Eu fui até lá.

Ninguém respondeu quando apertei o interruptor da entrada do prédio dele, era um edifício sem portaria, mas liberaram a porta. Eu subi o elevador, tremendo. Estava com medo, mesmo sendo a luz do dia.

Quando toquei a campainha, uma mulher abriu a porta. Era linda e vestida elegantemente, mas não era a mãe de Pedro nem ninguém que já tivesse visto, e eu recuei um passo, meu coração se acelerando.

- Entre, querido.

- Quem é você?

- Ora, não sabe? Eu sou Kalith.

- O que você fez com Pedro - não sei como, eu tive coragem de dizer, minha voz gaguejando.

- Ele morreu feliz, posso lhe garantir. Creio que se pudesse escolher, qualquer homem gostaria de morrer como ele morreu, nos braços de uma mulher.

Eu nada disse, e ela continuou - Entre, vamos, não temos necessidade de conversar no corredor. Eu preparo uma xícara de chá. - Eu apenas recuei mais um passo. Só não comecei a correr porque não via como conseguiria escapar e, na verdade, porque não sabia se poderia confiar em minhas pernas trêmulas.

- Está triste porque matei seu amigo? Mas eu lhe fiz um grande favor. Agora ele poderá viver para sempre no céu, garanti a ele uma vida inteira no paraíso. Quem sabe se, permanecendo vivo, ele não acabaria pecando e sendo condenado ao inferno? Você correria este risco por apenas alguns anos na terra? Qualquer cristão crente em Deus deveria estar, neste momento, matando tantos inocentes quanto pudesse, crianças de preferência. Não seria uma boa ação, um dever de garantir o paraíso para tantos quanto pudessemos? - Eu apenas balanço a cabeça, em um sinal de não.

- Claro que não - ela ri - estou apenas mostrando como Deus é incoerente. - Escrever certo por linhas tortas - ela gargalha agora uma risada medonha - vocês são tão ingênuos.

Talvez, eu pensei, se correr para a escada de incêndio, e fechar a porta atrás de mim, e descer correndo, eu consiga escapar. Mas eu não acreditei realmente em mim mesmo.

- Estou assustando você, não é? Tolice, não vou lhe fazer mal. Nós já fomos amantes, em outra vida - Ela se aproximou, e eu me senti incapaz de me mover, paralisado - e poderemos voltar a ser, nesta. - Ela encosta os lábios em meu rosto, um beijo suave - quando precisar, apenas diga meu nome em voz alta, que eu virei visitá-lo, onde você estiver.

Ela se virou e entrou dentro da casa de Pedro, então virou o rosto para mim, sorrindo - se quiser, entre. Estarei esperando aqui dentro.

Eu me virei e corri escada abaixo. Quando cheguei no portão, meu celular tocou. Era Luiz.

Ou um demônio no lugar dele.

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