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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Os Cinco Não Vivos - Parte 4 de 5: Matat

Eu tinha dúvidas se era realmente ele, até atender o celular e ouvir sua voz incoerente, em meio a soluços e choros. Era Luiz no telefone, com certeza, me dizendo que seus pais estavam mortos, assassinados por um demônio.

Estranhamente, ao invés de ficar ainda mais apavorado, eu me senti calmo, ou pelo menos anestesiado. Talvez por ter visto tantos horrores em tão pouco tempo, talvez por estar falando com alguém que também estava sendo perseguido pelos demônios, e assim não estar mais sozinho.

Talvez por ter alguém ainda mais apavorado que eu, no outro lado da linha.

- Eu sei que eles existem, eu também vi. Pedro também está morto. Eu acabei de sair do apartamento dele. Onde você está?

- A igreja na esquina, no caminho da minha casa. Venha rápido. Sangadriel disse que eles estão atrás de todos nós, e ele disse que vamos estar mais seguros aqui.

- Quem?

- É um dos arcanjos, os que Claudia contou. Foi ele que me salvou, o demônio fugiu do meu quarto quando ele apareceu.

"Arcanjos?". Eu só estava acreditando nos demônios porque tinha visto dois frente a frente, e mesmo assim ainda tentava achar alguma outra explicação. Agora deveria também acreditar em arcanjos? E se fosse outro dos demônios? ou se Luiz fosse um dos demônios? Havia um que assumia a forma de pessoas, Claudia havia dito.

Eu parei, em frente a Igreja, hesitante. Seria outro demônio a me esperar? Acho que se não fosse uma Igreja, teria dado meia-volta e fugido. Mas para onde eu iria? As portas da Igreja estavam abertas, e decidi entrar.

Havia um homem na porta, com Luiz. Um homem alto, com um casaco e calças marrom, cabelos loiros, olhos azuis. Não parecia um demônio.

Mais que depressa ele me segurou com suas mãos e me levantou sem esforço, apenas para me prensar contra uma das paredes da Igreja.

- O que está fazendo - gritou Luiz.

- Não vês, mortal? Não há alma neste ser. Tudo que nele persiste é a marca da serpente. - Enquanto uma de suas mãos continuava me segurando, outra começou a apertar meu pescoço, quase me impedindo de falar.

- Foi Kabet - eu falei com esforço, me lembrando que o primeiro não-vivo, a noite, me disse algo sobre isto.

- Não importa - disse o arcanjo - Arda no inferno, que na terra não irás mais caminhar.

Eu não consegui dizer mais nada, não consegui respirar. "Anjos falam deste jeito ridículo", o pensamento idiota me cruzou a mente.

"Não quero morrer", eu pensei em seguida. Tudo começou a ficar mais e mais escuro...

"Kalith", eu então chamei em pensamento, sem saber dizer porquê, e por um instante perdi a consciência.

- Sangadriel, porque não enfrenta alguém capaz de se defender? - Eu conhecia esta voz. A visão voltando. Kalith estava ali, e Sangadriel havia me largado no chão.

- Vamos então novamente cruzar armas, Kalith, mas não aqui - Um brilho surgiu no meio de todos nós, e instantes depois ambos desapareceram. Eu me levantei com dificuldade, tonto.

- Luiz - eu falei, surpreso em ver minha voz sair fraca. Luiz se afastou um passo e outro, andando para trás.

- Você também é um demônio? - ele não me deu chance de responder, apenas se virou e fugiu igreja adentro.

Eu sai da Igreja e comecei a caminhar para casa.

- Eles não estão realmente lutando, sabia? - Uma voz. Me virei, e um homem alto, tão alto quanto o anjo, estava atrás de mim.

- Ah - ele continuou - quando a próxima Biblia for escrita, dentro de uns dois séculos, vai dizer que eles se enfrentaram em batalha mortal, sem dúvida. A realidade é que são amantes, mas as aparências precisam ser mantidas.

As mãos dele tinham longos dedos. Eu estava cansado de fugir, de ter medo. Olhei ele nos olhos, quase me resignando com o que quer que viesse a acontecer, e disse - Matat, eu presumo.

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