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terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Último Rei Orco Capítulo I - Revisão 1

Nota do Autor: revisão 1 do capítulo 1.

O Último Rei Orco - Capítulo I


   Nos muros de Çatal Hoyuk, a cidade sitiada, guerreiros aguardavam nervosos, se perguntando quando começaria o ataque. Apenas a fé em JUS PATER, o Deus Pai dos primeiros homens, ainda sustentava sua esperança, cercados que estavam por uma força muito superior. Se caíssem, restaria apenas Asikli Hoyuk, a primeira cidade, como último baluarte do homem, e JUS PATER não deixaria isto acontecer.
   Ao redor da cidade, os Orcos também aguardavam, disciplinados e organizados como nunca antes estiveram, divididos nos dois grandes acampamentos das tribos de In e de El e em pequenos grupos das tribos menores. Eles esperavam pela palavra de seu chefe, Makel, que buscava uma audiência com os Deuses.
   "Como impedir que sejam os homens a herdar a Terra?". Em sua tenda, cercado por sua família e seus mais fiéis guerreiros, Makel pensou em silêncio. Esta era a pergunta que o Rei Orco tinha para os Deuses, a pergunta que permanecia em sua mente desde que seu irmão mais jovem havia trazido a palavra dos deuses do além-vida, que seriam os Homens, não os Orcos, que herdariam a Terra. A pergunta que Makel pagou com seu olho, sua mão e sua esposa, para ter dos Deuses a resposta.
   O Rei Orco fechou seu olho verdadeiro, e se deixou levar pela visão do dragão. Mais que visão, era como cavalgar um dragão de verdade. Como cavalgar o vento. Ele nem viu a taça de Nectar cair no chão, escapando da mão que lhe sobrara, enquanto o vento o arrastava para outro mundo. Os soldados que o cercavam impediram que seu corpo caísse, e o colocaram com cuidado em uma cama feita de pele de carneiros.
   A frente do Rei Orco, em sua visão do dragão, N-BIS, um deus menor, surgiu em meio a uma névoa sem fim, cessando, no mesmo instante, o vento que arrastara o rei até aquele local. A imagem de N-BIS era translúcida e intermitente, aparecendo e desaparecendo a cada instante. "Com dois olhos de dragão, minha visão seria perfeita, mas arrancar meu olho esquerdo já foi um preço alto demais", pensou o Rei Orco, "melhor enxergar um pouco no mundo dos deuses e um pouco no mundo mortal que ser cego em um deles".
   - Um Orco, aqui? Veio entregar seu coração como oferenda para N-BIS? - A voz era sibilante, quase um uivo.
   - Não vim para fazer oferendas, devorador de corações, vim para obter respostas.
   - Respostas? Acaso agora os deuses são servos, e os mortais reinam supremos? Acaso agora cabe a mortais fazer perguntas, e a deuses dar respostas?
   - Eu paguei o preço. Minha mão pela vida do dragão. Meu olho pela sua visão. Minha esposa em sacrifício, oferenda ao arqueiro APOL, deus da verdade. Leve-me a ele. Agora!
   - Falarias assim com Z-US PAI? Com V-NU ou J-VA? Pensa em mim como um deus menor, não é? Mas também a N-BIS a aqueles que seguem, Rei dos Orcos. Farias bem em lembrar isto.
   O Rei Orco ficou em silêncio, sem responder, mas também sem abaixar sua cabeça. Seu único olho aberto, o olho do dragão que ele colocou no lugar de seu próprio, fixo no rosto de chacal de N-BIS.
   Por fim, N-BIS lhe deu as costas e falou, sem olhar para trás - Siga-me, então, último rei dos Orcos. Eu o levarei a APOL.
   O Rei Orco seguiu em silêncio o devorador de corações. O olho direito, seu olho verdadeiro, sempre fechado. Abri-lo por um momento faria ele despertar de seu sonho divino.
   Ou enlouquecer.
 * * *
   O arqueiro APOL, filho de Z-US, era o mais lindo dos deuses, tão alto e belo quanto um Orco, um gigante perto dos minúsculos humanos. Ele, mais que ninguém, saberia a resposta a pergunta do Rei Makel.
   N-BIS havia se retirado, sem nada dizer, enquanto o Rei Orco aguardava que APOL se dirigisse a ele. Foi um longo tempo de silêncio, até que o deus finalmente levantou os olhos, que contemplavam uma pequena poça de sangue a seus pés, e, ao olhar para o Rei, perguntou o que o trazia a morada dos deuses.
   - APOL, filho de Z-US, eu, Makel, Rei dos Orcos, vim para lhe perguntar. Como podemos impedir que os homens se tornem os herdeiros da Terra? Como podemos garantir o futuro de minha raça?
   - Vocês não podem. Os homens herdarão a Terra porque esta foi a palavra dita por Z-US, último Rei dos Orcos. - Ele então se virou para voltar a contemplar a poça a seus pés.
   O Rei Orco sentiu seu coração se apertar. Seus sacrifícios, sua mão, seu olho, a mãe de 5 de seus filhos, todos um preço que não seria pago com tão pouca resposta. Mas era a um deus que ele se dirigia, e não um deus menor como N-BIS, mas um dos filhos de Z-US.
   - APOL, deus da luz e do sol, da verdade e da profecia, nós somos criaturas de J-VA, não de Z-US, é verdade, mas nós lutamos e mostramos nosso valor e devoção em campo de batalha. Nós queimamos nossos inimigos como oferenda não apenas a J-VA, mas também a Z-US e V-NU. O que fizemos para ofender a Z-US desta forma, e como podemos nos redimir.
   - Aproxime-se, último Rei dos Orcos. Aproxime-se e olhe para o espelho do tempo.
   O Rei Orco aproximou-se de APOL e olhou ao redor, até perceber que era à poça de sangue no chão que o Deus se referia. Ao olhar fixamente para ela, parado ao lado de APOL, ele viu imagens se formarem, uma visão dentro de sua visão.
 * * *
   - Aqui eu planto a primeira Árvore, neste que será o primeiro bosque - um ser de quatro braços falou, enquanto depositava uma semente na Terra. V-NU, o Deus de quatro braços, Makel pensou em silêncio, enquanto observava a cena tão de perto quanto se estivesse ao lado dos Deuses.
   - E aqui eu faço o primeiro lago - E o ser que assim falou, e escavou um buraco no chão, era Z-US, Makel soube instantaneamente. Z-US, o Deus Supremo.
   - E o que você fará, J-VA? Qual será sua marca neste novo ciclo que inicia? - V-NU perguntou.
   - Eu não farei nada. Eu não deixarei nenhuma marca, por enquanto.
   Os outros Deuses nada demonstraram emoção, mas Makel soube que eles estavam surpresos. A visão que ele estava tendo era composta por mais que sons e imagens. Era como se ela também estivesse acompanhada de conhecimentos que não deveriam estar ao alcance de um Orco, e ele soube que a fala de J-VA foi inesperada.
   - Vocês foram os primeiros Deuses que surgiram nesta era - disse V-NU - e em todas as eras os primeiros Deuses deixaram sua marca, após eu plantar a primeira árvore. Deixe sua marca, J-VA.
   - E se eu não obedecer? És mais antigo que todos os Deuses desta era, V-NU, mas não és mais poderoso. Vais tentar me fazer obedecê-lo?
   Houve silêncio, e então Makel percebeu que a semente plantada por V-NU era agora uma árvore, em meio a um bosque. O buraco escavado por Z-US, um lago. Havia se passado um tempo? Era ainda a mesma cena, ou os Deuses estavam novamente no bosque, e ele não havia percebido a passagem de tempo? Makel não saberia dizer.
   - De dentro desta árvore nasce o primeiro Elfo. Das outras árvores deste bosque, os outros Elfos nascerão. Imortais e com devoção sem igual, eles cantarão a glória dos Deuses, e darão poder a V-NU, aquele que viu incontáveis eras - e no que V-NU falou, elfos começaram a surgir de cada uma das árvores do bosque.
   - A água deste bosque é a água que cria os homens - disse Z-US - que eles se multipliquem em grande número, e que este número seja a marca do poder de Z-US.
   E Makel viu os homens saírem, dois de cada vez, homem e mulher, do primeiro lago.
   Então J-VA colocou a mão no chão, a beira do lago, e disse - Que do barro surjam os Orcos, e que eles sejam sem iguais na arte da guerra. Que eles exterminem elfos, homens e todos que sejam súditos de outros Deuses. Que, quando eles dominarem a Terra, J-VA se torne supremo entre os Deuses.
   Assim que o primeiro Orco surgiu do barro, V-NU olhou na direção de Makel, como se o visse pela primeira vez - O que faz um Orco observando os Deuses, Rei Makel? - Ele fez um gesto, e Makel se viu novamente no salão de audiências de APOL.
 * * *
   A imagem desapareceu, a voz silenciou, a poça de sangue no chão secou em um instante. O Rei Orco estava sozinho com APOL.
   - Eu não entendo, J-VA disse que iríamos exterminar os outros povos e reinar supremos. Os Elfos já foram derrotados e expulsos para florestas longínquas, e as cidades dos humanos caem uma após a outra. Então seremos nós a herdar a terra?
   - Você não viu o que aconteceu depois. J-VA dos Orcos ousou desrespeitar e desafiar os outros Deuses, tentar tomar para si o poder de V-NU, que veio antes de todos. Tentar superar a Z-US. Mas ele se esqueceu que nesta era, Z-US recebeu o poder da palavra, o poder de fazer tudo que ele disser se tornar realidade. Foi com a palavra que ele fez o mundo. Quando viu a criação de J-VA, e seu plano de se tornar o mais poderoso, ele riu da ingenuidade do Deus, então usou a palavra, e disse a frase que o trouxe aqui, Último Rei dos Orcos.
   E Makel ouviu a mesma frase que seu irmão, o Shaman, morreu para trazer do além-vida.
   - Não importa quantas batalhas sejam vencidas, não importa quantas guerras sejam travadas. Não importa quanto os Orcos lutem, os homens herdarão a Terra.

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