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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Fugindo do Holocausto Zumbi

   Holocausto Zumbi. O nome é bizarramente apropriado.
   Minha filha olha para mim, o medo deixando seus olhos arregalados. Minha mão tapa sua boca com força, um só som e é nosso fim. Ela me abraça com força.
   O barulho de passos se torna mais e mais alto. A madeira do assoalho range, estala, o som se aproximando.
   Nós não respiramos. Talvez hoje seja o fim. Parte de mim deseja isto, a parte que quer simplesmente se entregar e morrer. São 10 anos de horror, 10 anos do levantar dos mortos, 10 anos que começou a guerra entre seres humanos e zumbis. Uma guerra que, para todos os efeitos, já terminou.
   Nós perdemos.
   A mão de minha filha aperta a minha. Estamos em um fundo falso, um buraco abaixo do assoalho, que eu cavei com minhas próprias mãos, exatamente para um dia como hoje. Mal cabemos, espremidos.
   O ranger do assoalho é agora no nosso quarto. Se desconfiarem que estamos aqui, eles vão destruir tudo até nos achar. Contra um talvez eu tivesse uma chance, mas não, são muitos, um grupo inteiro.
   Parte de mim deseja que tudo acabe hoje, mas não a parte mais importante. Não a parte de mim que é pai. Cinco anos ela tem, minha filha amada, e por ela eu continuo. Ontem ela falou sua primeira palavra. Papai. Não preciso mais que isto para querer continuar a viver.
   Eles caminham, dão uma volta, olham em todo lugar. Ouço os barulhos, estão vasculhando. Mas nós cuidamos para não deixar sinal de nossa passagem, sabíamos que um dia eles encontrariam nossa casa. Sorte que não sentem muito cheiro, dependem mais do que ouvem, do que enxergam.
   Então os sons se afastam, o cheiro começa a diminuir, dá para saber que eles estão saindo. Eu continuo segurando a boca de minha filha. Nenhum som, nenhum barulho, ou será nosso fim.
   Quantos mais restam de nós? Não podemos ser os últimos. Em algum lugar tem que ter outros. Não lutando, não mais. Sobrevivendo,  aprendendo a pensar e entender seu lugar neste novo mundo. Não podemos ser só eu e minha filha que restamos.
   No início, a confusão do despertar dos mortos, a fome insaciável, a surpresa, tudo contribuiu para o colapso da civilização humana. A evolução mental veio depois, lentamente, ao longo dos anos, Zumbis cada vez mais inteligentes, raciocinando, tomando decisões, mas a humanidade também reagindo, se reorganizando.
   E agora não havia mais guerra. Só o Holocausto Zumbi.
   Nome apropriado mesmo.
   Saímos do assoalho pela porta escondida em baixo do armário, minha filha ainda com medo, mas eu lhe digo em voz baixa para não se preocupar, o ar saindo de meus pulmões para gerar a voz.
   Eu a abraço. Cinco anos que ela está comigo, cinco anos e ela já sabia pensar quase tão bem como eu. Minha filha, minha razão de viver.
   Eles foram embora.
   Mas iam voltar. O Holocausto Zumbi estava em andamento. A guerra acabou.
   Nós perdemos.
   Os humanos ganharam.

4 comentários:

  1. Olha, muuuuuito booooommmmmm!!

    Estava procurando um conto de aventura pro meu filho apresentar no colégio e este nos surpreendeu!
    o final É PERFEITO!!

    Parabéns!

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  2. Muito bom! Vou trabalhá-lo com meus alunos do 7º Ano. Parabéns!

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