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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Despertar no Ano 50.000 5/6

   Três pessoas na mesa, comigo. Dois já tendo partido. Minha vontade era apenas desafiá-los, dizer que não eram tão evoluídos assim, que eram apenas arrogantes superpoderosos. Se fizesse isto, eles simplesmente tomariam sua decisão, e bilhões de seres humanos desapareceriam. Eu precisava tentar entendê-los.
   - Ok, vocês dizem que somos como micróbios para vocês. E dizem também que são moralmente superiores a nós. Vamos imaginar que nós soubéssemos, no meu tempo, que micróbios fossem capazes de pensar e de ter sentimentos. Vamos também imaginar que não nos custasse nada mantê-los vivos. Eu seria capaz de apostar que haveria pelo menos alguns seres humanos que iriam defender o direito deles a vida.
   - Nós entendemos o seu ponto. Infelizmente para você, ele não é novo. O primeiro Homem do Século XXIII que despertamos apresentou um argumento similar, ainda que com um embasamento mais sofisticado. - A mulher, Minerva, não parecia tão hostil como Odin, mas seu tom era condescendente - Assim como ele, você questiona nossa superioridade moral, nos julga arrogantes e insensíveis. Você acredita que não somos superiores a você, apenas mais poderosos, estou correta?
   Eu tentei esquecer qualquer preconceito e prestar atenção de mente aberta. Tinha que lembrar que estes eram os que ainda estavam dispostos a me ouvir. Apenas três pessoas em trilhões que se dispunham a gastar alguns minutos de seu tempo - Eu estou tentando entendê-los. No entanto, vocês falam em eliminar bilhões de pessoas e se colocam moralmente superiores às pessoas do meu tempo - eu respirei fundo - por favor, me explique como conciliar estas duas coisas.
   - Sua moral, assim como a moral de todas as pessoas do terceiro milênio, se baseia em uma realidade de vida escassa. Se houvesse um único micróbio no Universo, talvez destruí-lo fosse moralmente inaceitável. Imagine, se sua capacidade de abstração permite, uma realidade de vida abundante. A cada instante, milhões de novas consciências são criadas, seja derivando ou mesclando outras consciências, seja crescendo lentamente dentro de caminhos estruturados - em certo sentido semelhante às crianças de seu tempo. Neste contexto, qual o sentido de despertar bilhões de seres limitados, infinitamente mais primitivos que tais consciências? Se fizesse sentido, também faria sentido criarmos novas consciências propositalmente defeituosas, limitadas a muito menos que o potencial máximo da alma humana. Ao despertarmos seus bilhões de companheiros, estaríamos propositalmente dando vida a consciências defeituosas e limitadas, ao invés de dar vida a seres mais avançados, com maior potencial de auto-conhecimento e crescimento. Sabemos que não há sentido em jamais despertá-los, e, portanto, não há porque mantê-los em nossos registros.
   - Entendo - eu disse, embora não entendesse plenamente. Alguma coisa na lógica que eu estava abordando com estes 'seres superiores' teria que mudar.
   Eu pensei em uma Xícara de chá, que imediatamente surgiu na minha frente. Eu peguei, e calmamente bebi. E depois comecei a falar.
   - Vocês obviamente sabem muito mais que eu. Tem uma cultura, uma inteligência e um senso moral muito mais avançado, correto? - Minerva concordou, e eu continuei.
   - E vocês sabem tudo. Quer dizer, tudo que há para saber?
   - Se existe um limite para o conhecimento humano, Homem do Século XX, ainda não chegamos nele. Os outros homens do terceiro milênio julgavam que nossa civilização estava estagnada, mas isto não é correto. Ainda estamos pesquisando, descobrindo coisas novas, enfrentando desafios. Ainda estamos evoluindo.
   - E vocês sabem o futuro? Quer dizer, vocês sabem como vocês, ou seus descendentes, pensarão 50.000 anos no futuro? Vocês sabem me dizer como seria um diálogo entre vocês e alguém tão mais avançado que vocês quanto vocês são em relação a mim?
   - Nós podemos especular, Homem do Século XX, mas não podemos saber. É impossível ver o futuro.
   - Pois bem. Vocês tem absoluta certeza que é moralmente sem sentido despertar estes bilhões de homens do passado. Vocês também podem afirmar que nunca, no futuro, haverá uma outra percepção a respeito? Que, em algum momento no futuro, descendentes mais avançados de vocês não poderão entender esta questão de forma diferente. Eles então, não olharão para vocês como os que queimaram a biblioteca de Alexandria? Se é que entendem a referência.
   - Entendemos sua referência. Nosso conhecimento de sua história é significativamente maior que o seu.
    - Vocês querem saber se os considero arrogantes? Sim, considero, não por se acharem superiores a mim, eu tenho certeza que vocês são. Mas, ao destruírem para sempre estes bilhões de seres, vocês estão se considerando superiores a todo e qualquer ser que venha após vocês. Vocês estão dizendo que nada que eles venham a decidir sobre nós seria de alguma forma diferente do que o que vocês decidirem hoje. Vocês estão tomando uma decisão irreversível, estão tirando de seus descendentes, descendentes superiores a vocês, a possibilidade de decidirem eles, sobre nosso destino.
    Minerva sumiu, assim como o outro homem que não pensei um nome. Apenas Simon permanecia. Eu fracassei. Deveria ter mantido a calma.
   - Em breve falaremos, Homem do Século XX - Simon disse. E então também ele desapareceu.

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