- Eu tenho duas excelentes notícias, Homem do Século XX. Nós tivemos sucesso.
Engraçado ele falar 'nós'. Simon não abriu a boca durante toda a reunião. Eu preferi não discutir isto com ele, tinha certeza que seria perda de tempo.
- Vocês vão despertar as pessoas? - eu sabia que eles poderiam facilmente criar um mundo virtual artificial, e despertar dentro dele todos os bilhões de seres humanos anteriormente congelados.
- Claro que não. Isto nunca sequer foi cogitado. Mas nossos argumentos se mostraram relevantes, apesar da simplicidade de sua formulação. Estimamos em menos de uma em um milhão a chance de no futuro uma decisão diferente ser tomada em relação aos homens primitivos. Mas ainda assim, uma em um milhão é uma chance suficientemente alta para justificar não eliminarmos os registros.
- Entendo. Então, como você mesmo disse, resta-nos torcer por esta chance em um milhão. Quando me congelaram, também não achei que minhas chances fossem muito mais que isto.
- Eu lhe disse que tínhamos duas excelentes notícias. Há aspectos de seu posicionamento que superaram nossas expectativas. Decidimos que você poderá viver em nossa sociedade.
- Vocês me escolheram ao acaso. Se eu mereço viver, porque não todas as outras pessoas?
- Você ainda é um humano primitivo. Entendemos que a presença de um de vocês poderá nos dar uma visão diferenciada, ainda que simples, da realidade. Apenas um maior número de humanos primitivos não geraria, por si só, mais valor.
- Entendo. Obrigado, mas não, obrigado.
- Como? - Pela primeira vez eu vi surpresa em seu rosto. Impossível saber se era real, ou apenas a simulação mostrou ele assim para satisfazer meu próprio ego, mas só isto valeu a pena.
- Podem me deixar nos registros junto com os outros. Eu prefiro não existir do que ser parte de uma sociedade que não dá valor para a vida humana.
Simon abaixou a cabeça em uma concordância que foi, senti, ao mesmo tempo um cumprimento e uma despedida. Pela primeira vez, ele saiu caminhando pela porta, ao invés de simplesmente desaparecer.
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