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FICÇÃO CIENTÍFICA  -  FANTASIA  -  TERROR.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Último Rei Orco VI

- Junte-se a nós ou saia do caminho.

Seth permaneceu imóvel, a ponta da espada encostando no chão, as pernas ligeiramente abertas, os olhos fixos em seu irmão mais velho. Ao seu lado, seu irmão do meio, Ab, de braços cruzados, apoiava-o simplesmente por estar ali, ao seu lado. Atrás de Cãn, todos de sua tribo aguardavam.

- O Rei disse para esperarmos, Cãn. Ele disse para esperarmos o tempo que fosse necessário, que ele voltaria para nos liderar no ataque a Asikli Hoyuk. Sua palavra é a lei para todas as tribos, inclusive a tribo de El. Inclusive a tribo de In.

- Um Rei Louco? Um Rei que arrancou o próprio olho? Que matou sua própria mulher? A tribo de In não segue um Rei destes.

- Makel uniu a todas as tribos, e todas juraram segui-lo enquanto ele vivesse. As tribos de In e El, mais que todas as outras, pois não foi destas tribos que ele desposou as mulheres e gerou a nós, seus filhos e filhas? Não foram as tribos de In e El que fizeram o juramento de sangue, o juramento de serem amaldiçoadas se um dia abandonassem seu Rei? Não trazemos todos a marca de Makel?

- Makel está morto

- Como ousa - Ab gritou e teria atacado ali mesmo seu irmão mais velho, a mão quase puxando a espada, mas a voz de Seth o deteve. - Pare!

Seth então olhou para o mais velho dos filhos do Rei Makel, sua espada ainda encostando a ponta no chão, os braços ainda aparentemente relaxados.

- Apenas nove dias se passaram desde que o Rei ordenou que esperassemos seu retorno. E nós esperaremos. Ele está vivo e ele retornará.

- Makel está morto - Cãn repetiu.

- Apenas nove dias e a tribo de In já enterrou vivo o seu Rei? Esta é toda a fé que vocês têm? - Seth olhou com desprezo para os seguidores de Cãn - A tribo de El esperará por todos os dedos da mão de cada um de seus guerreiros, e ainda assim acreditará no retorno de seu Rei. O inverno virá, trazendo neve e fome, e quando o verão retornar, ainda encontrará a tribo de El esperando seu Rei. E ele virá!

- Makel está morto - Cãn repetiu pela terceira vez.

- Como ousa dizer isto. Como ousa abandonar seu Rei?

- Esta noite, Seth El, filho de Mak El, esta noite eu sonhei com nosso pai. Eu sonhei que ele arrancou seu olho, o olho que lhe restava. Sonhei que ele comeu ambrosia. E sonhei que ele mergulhou no primeiro lago. Eu sonhei e em meu sonho, Makel morreu.

- Um falso sonho.

- Quando acordei, um corvo estava aos pés de minha cama. E todos sabem que os corvos trazem os sonhos verdadeiros.

- Este trouxe um sonho falso.

- Ele não trouxe apenas um sonho - E Cãn puxou um objeto de dentro de suas roupas, e jogou aos pés de Seth.

Quando percebeu o que era, Seth se abaixou e segurou, agachado, o objeto em sua mão. A espada, esquecida, caindo na relva. O objeto era um olho, e Seth soube instintivamente que era o olho que restara a seu pai. E soube também que o Rei estava morto.

Um movimento, Seth então mais sentiu do que viu, e soube que era a espada de Cãn, descendo em sua direção. Soube também que não conseguiria se desviar a tempo da mesma.

Um corpo então se jogou sobre ele, derrubando-o e ficando no caminho da lâmina, e Seth ouviu o grito de Ab, um grito interrompido subitamente.

Quando Seth se levantou, um golpe o atingiu na cabeça, e a escuridão dominou seu mundo.

Abriu os olhos para um mar de dor e sangue, e sentiu que um tempo havia se passado. Orcos da tribo de El o acudiam. Ele os empurrou e se levantou, apenas para ver, quando se afastaram, o corpo de seu irmão, Ab El, o pescoço quase arrancado, o rosto em um sorriso desfigurado, caído sobre uma poça de sangue.

À distância, Cãn e sua tribo caminhavam em direção ao horizonte. Ainda tonto, Seth pegou sua espada no chão, pronto para ir atrás de seu irmão.

Foi quando a voz de um morto o deteve.

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