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sexta-feira, 22 de março de 2013

Linguagem de Máquina 5/8

   Rubens estava há três dias parado em um mesmo problema, e não tinha a menor ideia do que era, só sabia que havia algo de errado. Nos últimos dias, seu trabalho havia se tornado imensamente mais sofisticado, e ele já não conseguia entender exatamente tudo que estava fazendo, só tinha uma percepção que algumas partes não estavam se encaixando mais. Era quase mais um trabalho artístico que um programa, como se estivesse pintando um quadro e faltasse corrigir algum detalhe. O problema é que ele estava pintando um quadro sem enxergar, e foi o que falou.
   - Há algum erro aqui, pelo menos eu sinto que alguma coisa está errada, mas eu não tenho como resolver sem saber exatamente o que estou desenvolvendo.
   A resposta, como sempre, veio de imediato - seu trabalho é identificar e corrigir os erros nas partes do sistema que lhe forem repassadas. Entender o todo é irrelevante.
   - Bom, então vão ter que resolver sem mim, ou vamos apostar que na verdade não existe nada de errado. Me passem algum outro problema e deixem este de lado - Era quase um blefe, ele tinha quase certeza que eventualmente ia conseguir resolver, mas estava cansado de tantos segredos, era como trabalhar de mãos atadas.
   - Você está correto, existe um problema, e é em um ponto crítico do sistema. Estamos esperando que você resolva para podermos avançar no desenvolvimento.
    - Olha, é óbvio que vocês têm pelo menos uma dúzia de programadores trabalhando nisto, e duvido que eles não saibam o que está sendo desenvolvido. Sinceramente, eu nem sei porque vocês precisam de mim, contratar alguém para fazer meu trabalho certamente é mais barato que tudo que vocês estão fazendo aqui, não que eu não seja grato por terem me livrado da prisão.
   - Você está equivocado, não há muitos que poderiam fazer o que você está fazendo. Precisamos que você resolva o problema atual.
   "Bom, então estou com algum poder de barganha agora", Rubens pensou.
   - Então eu preciso poder ver o que está errado. Eu só tenho a sensação de que as coisas não estão encaixando como deveriam, mas não tenho ideia do que está errado - Pela primeira vez pareceu haver uma hesitação antes da resposta vir. Será que a misteriosa voz estaria consultando algum superior?
   - Nós teremos que avaliar esta questão.
   - Ouça - Rubens respondeu, decidido a usar sua última carta - já deu para eu descobrir um pouco do que vocês estão fazendo. Era óbvio que em algum lugar estava por trás um sistema massivamente concorrente, e que é capaz de aprender ao longo do tempo. Vocês estão construindo uma rede neural, e desenvolveram alguma nova técnica de programar nela. Certamente, vocês também tem algum tipo de simulador, para ver o programa funcionando. Eu preciso ter acesso a este simulador, para testar o que estou fazendo.
   - Você terá acesso ao simulador. Amanhã estaremos liberando novas ferramentas que permitirão que você acompanhe os resultados de seu desenvolvimento.
   - Obrigado - Rubens agradeceu, mas ninguém mais lhe respondeu. Claro que seria ótimo poder simular o que quer que ele estivesse desenvolvendo, mas igualmente importante é que agora ele poderia ter uma ideia do que estava ajudando a criar. A última coisa que ele gostaria, fosse o governo americano ou não, era participar novamente de uma catástrofe como o roubo da ogiva nuclear.
   Avançando um importante passo em um mistério, ele chegou a conclusão que era seu dia de sorte, e resolveu atacar uma outra questão que o incomodava na mesma medida: Vanessa.
    Ele já havia descartado uma série de hipóteses, a começar por ela ter algum problema mental. Ele confirmou que ela tinha um implante neural subcutâneo como o dele, embora nunca a visse usando um computador. Pessoas com problemas mentais sérios eram proibidas de usar tais implantes. Isto também indicava que ela devia ser uma jovem de classe média, pelo menos, já que estes implantes não eram baratos.
   Restava a hipótese dela ser simplesmente uma garota de programa, mas isto não explicava a sensação que ele tinha que ela nunca falava com naturalidade, muitas vezes ficando simplesmente em silêncio, ao invés de responder suas perguntas. Ele estava cansando disto, estava começando realmente a gostar dela, por mais estranha que fosse, e estava na hora de saber pelo menos alguma coisa a seu respeito.
   - Vanessa - ele falou, em um tom normal de conversação, enquanto comiam o jantar que ela havia preparado. Havia decidido que era o melhor momento para tentar com mais insistência obter alguma informação - fale-me um pouco dos seus pais.
   - Não quero falar sobre isto. Vamos mudar de assunto - nos primeiros dias, ela simplesmente ficava em silêncio quando ele tocava neste assunto. Agora, pelo menos, ela respondia.
   - Estamos há dias só nos dois aqui. Eu quero saber um pouco mais sobre você. Me fale sobre sua mãe, como ela é?
   - Não quero falar sobre isto. Vamos mudar de assunto.
   - Eu insisto. Me diga pelo menos alguma coisa sobre seus pais.
   Vanessa repetiu a mesma frase de novo, e Rubens insistiu. Os olhos dela estavam bem abertos, anormalmente abertos, e ela se levantou da mesa e começou a repetir sem parar as mesmas duas frases, olhando para ele e gritando, a primeira vez que ele a havia ouvido gritar.
   Então, Vanessa caiu no chão e começou a ter uma convulsão.

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