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FICÇÃO CIENTÍFICA  -  FANTASIA  -  TERROR.


sábado, 9 de março de 2013

Linguagem de Máquina 3/8


   - Quem é você?
   - Vanessa. Estou aqui para servi-lo – Ela repetiu tanto a resposta quanto o sorriso.
   - Como assim? Quem mandou você? – Ela olhou para Rubens, sempre mantendo seu sorriso, mas não respondeu nada.
   - Não pode me dizer?
   Nenhuma resposta.
   - Você fala português? Está entendendo o que eu falo?
   - Falo sim.
   - E não pode responder minhas perguntas?
   A jovem abaixou a cabeça, como se envergonhada, depois falou, a voz um pouco mais baixa – Desculpe. Só estou aqui para servi-lo.
   - Tá, tudo bem. Bom, fique à vontade, então. – Rubens coçou a cabeça, não sabia bem o que fazer agora – Quer que eu mostre a casa?
   - Se você quer mostrar a casa, vou ficar feliz que você mostre.
   Pelo menos parecia uma resposta um pouco mais natural, e Rubens a levou por toda a mansão, os quartos, cozinha, sala de ginástica, laboratório de informática. Rubens já havia reparado que a mansão parecia mais preparada para receber um grupo de pessoas que apenas ele.
   Durante toda a apresentação da casa, Rubens continuou tentando estabelecer uma conversa. Algumas perguntas, Vanessa respondia, outras não, e ele imaginou que talvez ela apenas fosse muito tímida, mas mesmo assim ela o deixava desconfortável. De qualquer modo, não conseguiu descobrir mais nada sobre ela.
   Depois, deixou-a na cozinha – ela disse que queria preparar uma refeição para ele – e foi para o escritório que usava para seu trabalho. Antes de começar, ele tentou descobrir quem era esta Vanessa e por que enviaram ela, mas não teve muito mais sucesso no diálogo com seu ‘chefe’.
   - Você nos alertou para sua necessidade de contato humano. Enviamos Vanessa para servi-lo.
   - Tá, e por que vocês proibiram ela de ter uma conversa normal comigo?
   - Iremos melhorar isto – Melhorar? Isto estava definitivamente ficando ainda mais misterioso.
   Rubens levou mais tempo que o habitual para se concentrar em seu trabalho, mas depois que começou, sua culpa, o mistério da mulher, tudo foi esquecido, enquanto se concentrava em um problema particularmente complexo. Aparentemente, os programadores misteriosos haviam trabalhado bastante durante a noite. “Estão na Índia, eu aposto”, ele pensou enquanto trabalhava.
   Quando por fim parou para descansar um pouco, descobriu que Vanessa havia feito um almoço para eles. Depois de semanas de sanduiches e comida congelada esquentada no micro-ondas, foi uma grata surpresa. De tempos em tempos eram deixados suprimentos e produtos de supermercado dentro da casa, ao pé de escada, mas Rubens nunca teve muita experiência em fazer sua própria comida.
   Ele sentou à mesa, e Vanessa permaneceu em pé, até que ele mandou ela sentar e comer junto com ele. Novamente, as tentativas de estabelecer uma conversa com ela foram frustrantes. Ela era sempre simpática e sorridente, mas parecia procurar responder o mínimo possível, isto quando não ficava simplesmente em um silêncio constrangedor. No final o almoço, embora saboroso, também foi uma experiência incômoda.
   Assim que ele terminou, Vanessa pôs-se a arrumar a mesa, e quando ele se prontificou em ajudar, ela respondeu que ele tinha o seu trabalho para fazer, e que este era o trabalho dela.
   “Depois de três semanas sem falar com ninguém, eu talvez esteja sendo insistente demais. De repente, ela nem mesmo foi com a minha cara”. Rubens pensou, e retornou ao seu escritório.
   Ele trabalhou até tarde, e quando finalmente parou, encontrou um jantar pronto. O silêncio foi igualmente constrangedor, mas desta vez ele nem tentou conversar, resolveu deixar que ela falasse quando se sentisse confortável. Desta vez, pelo menos, ela sentou para comer junto com ele.
   - Bom, já está ficando tarde. Você vai voltar amanhã?
   - Eu vou ficar aqui, estou aqui para cuidar de você.
   - Ah, ok... – Rubens respondeu. Depois que ela ajeitou a mesa, tendo novamente insistido que isto era trabalho dela, ele a levou até um dos quartos – Acho que você pode dormir aqui, então. Se preferir, tem mais dois quartos vagos, mas este é o maior, e tem um banheiro exclusivo ao lado. Se quiser trazer suas coisas, tem um armário vazio aqui.
   Ela agradeceu e não falou mais nada. Rubens a deixou e foi para seu próprio quarto.
   No meio da noite ele acordou de um sonho em que estava com sua namorada, na cama, apenas para perceber que de fato havia alguém com ele. Em cima dele, seria mais preciso.
   - O quê? Quem?
   - Shhh. – Vanessa falou, o rosto aparecendo por entre as cobertas, para então desaparecer novamente, sua boca descendo pelo seu corpo.
   Por um instante, Rubens quase disse para ela parar, mas hesitou por alguns instantes, pensando que provavelmente nunca mais iria ver sua namorada mesmo. E depois não pensou em mais nada.
   Pela manhã, foi acordado com um bandeja de café da manhã sendo colocada em seu colo por uma Vanessa nua.
   - Olhe, você está sendo obrigada a alguma coisa? Quer dizer, alguém tem seus pais como reféns ou alguma coisa do tipo? Eu não quero que você faça alguma coisa contra sua vontade – Um pouco tarde para dizer isto, sua consciência lhe alertou...
   - Estou aqui para servi-lo – ela respondeu sorrindo.

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