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sexta-feira, 15 de março de 2013

Linguagem de Máquina 4/8


   Ao longo dos dias seguintes, uma nova rotina se estabeleceu. Uma rotina com alguns aspectos positivos em relação às primeiras semanas preso na casa, Rubens admitia para si mesmo. Vanessa estava sempre pronta para atender a todas as suas vontades. “Estar ali para servi-lo” parecia ser algo que ela tomava ao pé da letra. Mas também o deixava incomodado não saber praticamente nada sobre ela. Sua teoria atual era que ela era uma garota de programa, e ele estava tentando se manter emocionalmente afastado, mas não era fácil, especialmente sendo a única pessoa que ele tinha para conversar. Ela até tinha começado a falar de uma forma mais normal, nos últimos dias.
   Não conseguindo nenhum avanço em um dos seus mistérios, Rubens resolveu se concentrar nos outros. O que ele estava ajudando a desenvolver e quem era seu misterioso empregador.
   A segunda questão ele pensava saber a resposta. Primeiro imaginara que estava trabalhando para um grupo terrorista, talvez o mesmo que havia detonado a bomba – um pensamento que o deixara horrorizado nos primeiros dias – ou para um grupo empresarial, mas já abandonara estas ideias. O tipo de ferramentas e a própria linguagem que estava utilizando eram avançados demais para terem sido desenvolvido por algum grupo. Parecia muito mais um desenvolvimento de anos e anos, que no entanto foi mantido em absoluto segredo, e ele só conseguia imaginar uma resposta possível para quem poderia estar por trás disto.
   - Eu não creio que vocês estão me mantendo isolado para que o governo americano não me encontre – Ele falou para o microfone. Ele sabia que podiam ouvi-lo de qualquer lugar da casa, mas aparentemente a maioria das vezes só respondiam quando ele estava em seu escritório.
   - Estamos mantendo-o isolado pois você está oficialmente morto. Se você for encontrado vivo isto geraria toda uma série de efeitos colaterais, inclusive o governo americano voltando a caçá-lo – como sempre, a resposta veio de imediato. Para Rubens, era uma confirmação que ele não estava falando sempre com a mesma pessoa, mas sim com uma equipe. Ninguém conseguiria estar permanentemente pronto para responder.
   - O governo americano não está mais me caçando, ele já me pegou. São vocês, não? Eu estou trabalhando para o governo agora. – Não houve resposta desta vez. Assim como Vanessa, algumas vezes eles simplesmente se recusavam a responder suas perguntas.
   - Ouçam, a esta altura vocês já devem saber que eu não fiz nada intencionalmente. Eu nem imaginei que o sistema que eu estava desenvolvendo ia ser usado para invadir uma base do governo de vocês.
  - Nós não estamos confirmando nem negando sua hipótese. Você pode assumir a alternativa que lhe parecer mais conveniente. Agora, pedimos que retorne a seu trabalho.
   Rubens já sabia que nestes momentos era muito difícil obter mais alguma resposta. Muitos destes diálogos, nestas últimas semanas, terminavam desta forma. Mesmo assim, talvez fosse significativo que eles não negaram sua suspeita.
   Talvez, se desvendasse o que exatamente ele estava ajudando a desenvolver, quem estava por trás do projeto se tornaria óbvio, mas esta na verdade parecia ser a questão mais misteriosa de todas. Aparentemente, seu trabalho era apoiar na construção das ferramentas que seriam utilizadas mais tarde no desenvolvimento de um sistema, como se ele estivesse participando na construção de um computador totalmente novo, desenvolvendo recursos para armazenar informações, selecionar fluxos de dados, mas sem saber qual a aplicação final que seria desenvolvida.
   Sua teoria atual é que era alguma alternativa a computadores tradicionais, talvez algum tipo de computador biológico. De qualquer modo, o que quer que fosse, não era parecido com nada que ele já tivesse desenvolvido.
   Ele perguntou se poderiam lhe dar mais alguma informação sobre o projeto, mas a resposta foi a mesma das outras vezes que perguntou: nenhuma.
   Frustrado, ele resolveu encerrar mais cedo o trabalho naquele dia. “O que vai acontecer se eu simplesmente me recusar a fazer meu trabalho, a menos que eles comecem a me dar respostas?”, Rubens se  perguntou, e por um instante chegou a pensar em fazer exatamente isto, mas resolver esperar. Bem ou mal, independente de quem fossem, ele estava nas mãos deles.


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