A princesa Elinara atravessou lentamente o grande salão vazio, o queixo erguido, os passos firmes, os olhos fixos no homem sentado no trono de Armahel. "Concentre-se em sua respiração", ela dizia, em silêncio, para si mesma. "Inspire lentamente, e depois solte o ar. Não demonstre nenhum medo". Ela tentava não olhar para o grande machado ensanguentado que ele segurava.
As suas costas, as grandes portas se fecharam, e ela ficou sozinha com o selvagem.
O homem sentado no alto do trono sorriu para ela. Ele não estava vestido como um rei. Na verdade suas roupas simples pareciam mais apropriadas a um soldado que a um homem da nobreza. A sujeira, sangue e lama misturados, só reforçavam esta impressão. Elinara repetia para si mesmo que ela era filha do Rei Balduk Darkos, e que um Darkos não temia homem algum, mas era difícil ter a mesma coragem que seu Rei. No final das contas, ela era apenas uma criança de nove anos.
"Aproxime-se, filha da Rainha de Armahel."
Elinara se aproximou ainda mais, até parar aos pés da escadaria que levava ao trono, e então parou.
"Você sabe quem eu sou?"
Por alguns segundos nenhuma resposta se ouviu no grande salão. "Sempre que estiver com medo ou nervosa, aguarde um instante para falar. Jamais deixe o inimigo perceber qualquer fraqueza em sua voz", havia lhe dito seu irmão, nem um ano atrás. "Nós somos filhos do Rei de Armahel. Nós não temos inimigos", ela havia respondido. As palavras pareciam uma piada de mau gosto, agora, com seu irmão morto, talvez pelas próprias mãos do homem a sua frente.
"Você é um Rashtir, o lider dos invasores do norte", ela respondeu. Ela não o chamaria de rei. Seu pai era um rei. Tinha coroa, e imponência. Tinha sangue nobre.
"Tem certeza? Houve uma época que chamavam sua mãe de invasora. Alinara Rashtir. Assustavam as crianças com histórias dela. Soldados preferiam a morte que cair em suas mãos, e terem os olhos arrancados, para servir de exemplo. Um casamento, algumas roupas, e ela se tornou a Rainha Alinara Darkos. Algumas roupas sujas de sangue, alguns ferimentos, e para você eu sou um Rashtir".
O que ele disse não fazia sentido, Elinara não estava entendendo. Sua mãe era uma dama da mais nobre origem, de uma das casas mais antigas do reino. Seu pai que era um guerreiro. Ela disse isto para o Rashtir, que começou a gargalhar.
"Balduk? Balduk, o fraco? Balduk, que tinha medo da própria sombra, e foi o primeiro grande nobre a se ajoelhar para sua mãe? Este era seu guerreiro?"
Ela nada respondeu. "Será que ele está louco? Será que vai me matar?". Seu irmão estava morto, seu pai também, mortos na defesa do castelo. Ela tentou não pensar nisto.
Sem nenhuma resposta sua, ele continuou a falar.
"Eu não vi sua mãe nestes últimos anos, mas me disseram que ela realmente parecia uma rainha, como se tivesse nascido para o papel. Quem ousasse mencionar que um dia ela foi Alinara Rasthir, a mulher-monstro, tinha sua lingua arrancada pelos soldados do rei. Mas eu a vi aqui, muitos anos atrás, sentada neste trono, com roupas tão ensanguentadas quanto as minhas e um machado em suas mãos. Na verdade, este mesmo machado", ele levanta o machado, mostrando-o para a princesa, "claro que ela precisava das duas mãos para levantá-lo".
"Você está mentindo. Você já matou todos eles, por que está inventando tudo isto?"
"Sua mãe está viva. Meus homens a conhecem, ou sua reputação, mas ela foi aprisionada pelos mercenários de Loth. Quando soube que eles a mantinham prisioneira, para usar como refém no ataque final ao castelo, tentei avisá-los, mas era tarde. Corpos dilacerados foi tudo que encontrei. Aprisionar Alinara Rashtir é como querer aprisionar o vento, era algo que diziam muitos anos atrás."
"Meu irmão?" ela falou, e depois fechou a boca, arrependida de ter deixado escapar. Mas ela precisava saber.
"Morto. Seu pai, morto. Seu tio Otavius, morto. Resta sua mãe, em algum lugar tentando montar um novo exército, eu imagino. E você. Em breve restará apenas sua mãe".
"Você vai me matar?"
"Sim."
Mais um silêncio. Longo. Eu tinha que tentar fugir, ela pensou, mas como, em um castelo tomado pelos Rashtir. Sua mãe podia ser como o vento, se alguma coisa do que ele dizia pudesse ser verdade, mas ela era apenas uma criança.
"Pode parecer crueldade não fazer de uma vez, mas eu tenho que lhe dizer por que você tem que morrer. É algo que nunca contei a ninguém".
"Sua mãe estava bem aqui, onde estou. Apenas três pessoas estavam no salão com ela, três crianças, paradas bem onde você está. O príncipe Rauthor Darkos, a princesa Rafaela Darkos, e eu, o menino bobo-da-corte, o amigo plebeu da princesa. Eu não sabia por que estava junto".
Elinara ouvia, atenta. Pensar na história, não em sua morte. Se pensasse que iria morrer, o pânico faria ela se mostrar uma covarde. Ela não seria covarde. Pela honra de seu pai, de seu irmão. Se sua mãe era uma guerreira de verdade, ela seria também.
"Eu iria casar com seu pai, ela disse para os príncipes. Foi uma promessa de grande rei, avô dos príncipes, o casamento que traria os Rasthir para junto de seus irmãos do sul, ela disse para os príncipes. Nas entranhas do corvo morto ao amanhecer, o sábio dos Rashtir havia visto que eu me tornaria um dia Alinara Darkos, por isto os Rashtir acreditaram nas palavras do antigo rei, ela disse para os príncipes".
Elinara nunca havia ouvido isto, em nenhuma história, em nenhuma lenda. Sua mãe, uma Rashtir? Os Rasthir convidados a se juntar e serem tratados como iguais pelos povos do sul?
"Mas foi mentira, ela disse para os príncipes. Foi apenas um truque para atrair meu povo, e massacrar a todos nós, ela disse para os príncipes. E ela continuou, contando como sobreviveu e jurou vingança, como prometeu matar todos que carregassem o sobrenome Darkos, exceto o ramo mais fraco, mais covarde da família, e que então se casaria com um deles e tomaria para si o nome. Que então se tornaria rainha, como prometido". Ele parou por um instante, respirando fundo, e então continuou.
"Então ela disse que pretendia deixar o príncipe e a princesa viverem, por serem crianças, e porque após o casamento seriam de sua família. Mas naquela manhã, nas entranhas do corvo morto ao amanhecer, o sábio Rashtir viu que, se um dos príncipes sobrevivesse, um dia ele iria se vingar nos filhos ainda não nascidos de Alinara".
Algo estava diferente em sua voz, e por um momento Elinara não soube dizer o que era, até que percebeu que ele não falava mais no sotaque do norte, no tom mais gutural que os Rasthir usavam. No tom que, agora ela lembrava, sua mãe falava quando estava zangada e gritando com algum criado. Ele falava na mesma voz cantada que ela cresceu ouvido dentro dos muros do castelo.
"O príncipe foi primeiro. Ele apenas olhou para mim, sem nada dizer, um instante antes de sua cabeça ser arrancada. Ele tinha 11 anos. A princesa tinha 9. Eu achei que depois deles, eu seria o próximo, mas ela me disse apenas para chamar os soldados para recolher os corpos. Esta é sua doce Rainha. Agora já sabe porque você tem que morrer?"
"Não". Ela respondeu e balançou a cabeça.
"Não é verdade, eu não vou morrer acreditando que minha mãe é um monstro, é isto que ele quer. Minha mãe jamais faria isto. E eu não vou implorar. Ele vai me matar de qualquer jeito.", pensamentos em silêncio. Lágrimas querendo escorrer, que ela lutou para segurar.
"Eu também matei um corvo, muitos anos depois, quando aprendi a ver o que os sábios Asthir enxergam. Eu vi a mesma visão que sua mãe viu, que se o príncipe vivesse, ele se vingaria nos filhos de Alinara". Ele se levantou, o machado em sua mão.
"E você era o príncipe. Foi o bobo-da-corte que morreu", ela falou, repetindo uma frase que parecia soprada em seu ouvido. Soprada por uma voz de criança, como a sua.
"Sim, minha sobrinha distante. Eu vi meu amigo morrer em meu nome. Eu vi minha irmã morrer sem nada poder fazer. E agora é a sua vez. Feche os olhos, prometo ser rápido".
A voz ainda parecia soprar em seu ouvido, e Elinara se via a repetir. "Eu não tenho porque fechar os olhos. Uma princesa de Armahel não fecha os olhos para seu destino. Eu sou um Darkos, e um Darkos não teme a morte".
Ele parou, o machado baixando lentamente. Sua voz era lenta, quase um sussurro, quando ele falou novamente.
"As exatas palavras de minha irmã. Ela olhou para sua mãe, e disse estas exatas palavras".
Mais um instante de silêncio, mais longo que todos os outros.
"Diga a sua mãe que ela me deve uma vida. Diga a sua mãe que não fará diferença se ela vai reunir um exército ou se esconder em um reino vizinho. Diga a sua mãe que não fará diferença se ela vai ser rainha ou guerreira. Eu vou encontrá-la, isto eu também vi nas entranhas do corvo. Parta, e leve esta mensagem para sua mãe".
Foi só então que Elinara percebeu que iria viver.
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FICÇÃO CIENTÍFICA - FANTASIA - TERROR.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
O Vidente e os Três Príncipes
O velho rei viajante agonizava, prestes a iniciar sua derradeira jornada. Três Príncipes aguardavam, em vigília, a notícia de sua morte.
Melkin, o traidor, filho da doce Brunilde, rainha no exílio do reino de Terth, aguardava a chance de se tornar rei, reunir um exército e conquistar para sua mãe o trono que pertencera a seu avô.
Ledrik matador de menestréis, filho da lendária guerreira Dythra, estava disposto a duelar com qualquer de seus meio-irmãos, e se considerava o mais apto a governar o reino.
Rul, o trapaceiro, não tinha nem perfil, nem inclinação para governar. Preferia passar seu tempo em tabernas, bebendo e jogando.
Três príncipes. Um reino. Cada um de uma mãe diferente, cada um vindo de uma cidade. Todos nascidos na noite do mesmo dia, todos dizendo ser o primogênito.
"Sábio, chame o vidente Alghur", o rei disse, de repente, no meio da noite. Da última noite. Sua mão, ainda forte mesmo nesta hora, segurando o braço de seu Sábio, que aguardava sozinho ao lado de sua cama.
"Meu rei, Alghur vê o futuro, mas o futuro que Alghur vê nunca pode ser mudado e sempre se torna realidade. Não é uma boa idéia chamá-lo".
"Ainda não estou morto, Sábio. Ainda sou rei. Chame Alghur", a voz do rei sempre foi rouca, desde que uma espada quase cortou sua cabeça, mas sempre foi carregada de autoridade.
"Sim, milorde".
"E traga-me também meus filhos, os três príncipes inúteis".
E assim foi feito. Ainda antes do nascer do sol, Alghur, o vidente, e os três príncipes, estavam no quarto do grande rei, aguardando suas palavras.
"Alghur, eu quero que olhe e diga o futuro de cada um de meus filhos. Certamente, em apenas um você verá uma coroa. Os outros dois terão que aceitar e não terão porque lutar pelo meu reino, pois o que dizes sempre se torna realidade".
"Milorde, é verdade que o que eu vejo sempre se torna real, mas eu não posso escolher a visão que me será mostrada."
"Apenas faça, feiticeiro. Do contrário estes tolos destruirão meu reino após minha morte".
Alghur olhou para Melkin e disse: "Eu vejo você caído no chão, morto, apunhalado a traição por sangue de seu sangue. Você veste as mesmas roupas que está agora, creio que será ainda está noite."
Alghur olhou para Ledrik e disse: "Eu vejo uma mão soprando veneno em seu rosto, o veneno mortal do pólen de Lathus."
Alghur olhou para Rul e disse: "Eu vejo quatro caixões. Um para seu pai e um para cada um de seus irmãos. Eu vejo você no quarto caixão".
Alghur olhou para o rei e disse: "Eu sinto muito, meu rei, mas parece que nenhum dos príncipes herdará seu reinado".
O rei olhou para Alghur, todas as suas esperanças desfeitas pelas cruéis palavras. Ele tentou falar algo, mas suas forças lhe faltaram, como se as palavras de Alghur fossem como facas trespassando seu coração. Ele ainda segurou o braço de seu Sábio uma última vez e, então, finalmente sua força o abandonou.
"O rei está morto". O Sábio disse, encostando a mão no pescoço do rei, tentando sentir alguma pulsação.
"E os príncipes em breve o seguirão", disse Alghur, em voz baixa.
"Não se seu feitiço for quebrado com sua morte, feiticeiro", bradou Ledrik. Então sacou sua espada e atravessou o corpo de Alghur com ela.
Alghur olhou para Ledrik, guspiu sangue, levantou sua mão, e disse: "tolo, nunca lhe disseram que o veneno de Lathus é a arma dos videntes". Então ele abriu sua mão e soprou um pó. E morreu.
E com ele morreu Ledrik, matador de menestréis, assim conhecido porque um dia matou o menestrel que roubou o coração da mulher que ele desejava. Ledrik, que desde este dia fatídico passaria a ser chamado de Ledrik matador de videntes.
"O que vamos fazer?", Rul disse, virando-se para seu meio-irmão Melkin.
"Afaste-se", disse Melkin, recuando e sacando também sua espada. "Não pense que não ouvi as palavras do vidente. Não vou lhe dar oportunidade de me apunhalar". E Melkin então se virou e saiu correndo pela porta.
"Todos vocês morrerão esta noite", disse o Sábio, olhando para os mortos, e depois para o único outro homem vivo que restou no quarto, Rul. "Eu disse ao rei para não trazer o vidente. Sinto muito, meu bom Rul". Lágrimas corriam pelo seu rosto.
"Ninguém escapa do destino profetizado por Alghur", disse Rul, também olhando para os mortos. "Se o meu é acompanhar minha família nesta última jornada, que assim seja". E nada mais falou.
E assim foi, que o amanhecer foi marcado pelas badaladas do sino, anunciado a morte de um rei e três príncipes.
Brunilde, a doce Brunilde, que enlouqueceu no exílio, vivendo apenas pelo sonho de um dia recuperar seu trono, foi encontrada no estábulo, ainda segurando uma faca ensanguentada em sua mão. A seus pés, jazia seu filho, Melkin, o traidor, assim chamado porque traíra os votos de devoção a seu Deus para resgatar sua mãe. Deste dia em dia, foi conhecido como Melkin, o traído. Brunilde apenas repetia, incessantemente, que seu filho lhe prometera seu reino de volta, e que agora queria fugir e levá-la para um novo exílio.
Todos os nobres da corte foram ao enterro, e acompanharam o transporte de cada um dos quatro caixões. Um a um, o rei e seus príncipes seriam guardados na cripta real.
O Rei Viajante. Ledrik matador de videntes. Melkin, o traído. Rul, o trapaceiro.
Um a um, foram colocados na cripta, para seus restos mortais descansarem em meio a seus antepassados.
Os ossos do Rei Viajante passariam a eternidade junto com o dos antigos reis.
Os ossos de Ledrik seriam, muitos meses depois, roubados pela mulher que ele um dia amou, e jogados aos cães.
Os ossos de Melkin seriam, longos anos depois, transportados para Terth, para descansarem junto com os de sua mãe.
Os ossos de Rul acompanharam o restante de seu corpo, na noite daquele dia, quando ele se levantou e partiu para viver novas aventuras.
Melkin, o traidor, filho da doce Brunilde, rainha no exílio do reino de Terth, aguardava a chance de se tornar rei, reunir um exército e conquistar para sua mãe o trono que pertencera a seu avô.
Ledrik matador de menestréis, filho da lendária guerreira Dythra, estava disposto a duelar com qualquer de seus meio-irmãos, e se considerava o mais apto a governar o reino.
Rul, o trapaceiro, não tinha nem perfil, nem inclinação para governar. Preferia passar seu tempo em tabernas, bebendo e jogando.
Três príncipes. Um reino. Cada um de uma mãe diferente, cada um vindo de uma cidade. Todos nascidos na noite do mesmo dia, todos dizendo ser o primogênito.
"Sábio, chame o vidente Alghur", o rei disse, de repente, no meio da noite. Da última noite. Sua mão, ainda forte mesmo nesta hora, segurando o braço de seu Sábio, que aguardava sozinho ao lado de sua cama.
"Meu rei, Alghur vê o futuro, mas o futuro que Alghur vê nunca pode ser mudado e sempre se torna realidade. Não é uma boa idéia chamá-lo".
"Ainda não estou morto, Sábio. Ainda sou rei. Chame Alghur", a voz do rei sempre foi rouca, desde que uma espada quase cortou sua cabeça, mas sempre foi carregada de autoridade.
"Sim, milorde".
"E traga-me também meus filhos, os três príncipes inúteis".
E assim foi feito. Ainda antes do nascer do sol, Alghur, o vidente, e os três príncipes, estavam no quarto do grande rei, aguardando suas palavras.
"Alghur, eu quero que olhe e diga o futuro de cada um de meus filhos. Certamente, em apenas um você verá uma coroa. Os outros dois terão que aceitar e não terão porque lutar pelo meu reino, pois o que dizes sempre se torna realidade".
"Milorde, é verdade que o que eu vejo sempre se torna real, mas eu não posso escolher a visão que me será mostrada."
"Apenas faça, feiticeiro. Do contrário estes tolos destruirão meu reino após minha morte".
Alghur olhou para Melkin e disse: "Eu vejo você caído no chão, morto, apunhalado a traição por sangue de seu sangue. Você veste as mesmas roupas que está agora, creio que será ainda está noite."
Alghur olhou para Ledrik e disse: "Eu vejo uma mão soprando veneno em seu rosto, o veneno mortal do pólen de Lathus."
Alghur olhou para Rul e disse: "Eu vejo quatro caixões. Um para seu pai e um para cada um de seus irmãos. Eu vejo você no quarto caixão".
Alghur olhou para o rei e disse: "Eu sinto muito, meu rei, mas parece que nenhum dos príncipes herdará seu reinado".
O rei olhou para Alghur, todas as suas esperanças desfeitas pelas cruéis palavras. Ele tentou falar algo, mas suas forças lhe faltaram, como se as palavras de Alghur fossem como facas trespassando seu coração. Ele ainda segurou o braço de seu Sábio uma última vez e, então, finalmente sua força o abandonou.
"O rei está morto". O Sábio disse, encostando a mão no pescoço do rei, tentando sentir alguma pulsação.
"E os príncipes em breve o seguirão", disse Alghur, em voz baixa.
"Não se seu feitiço for quebrado com sua morte, feiticeiro", bradou Ledrik. Então sacou sua espada e atravessou o corpo de Alghur com ela.
Alghur olhou para Ledrik, guspiu sangue, levantou sua mão, e disse: "tolo, nunca lhe disseram que o veneno de Lathus é a arma dos videntes". Então ele abriu sua mão e soprou um pó. E morreu.
E com ele morreu Ledrik, matador de menestréis, assim conhecido porque um dia matou o menestrel que roubou o coração da mulher que ele desejava. Ledrik, que desde este dia fatídico passaria a ser chamado de Ledrik matador de videntes.
"O que vamos fazer?", Rul disse, virando-se para seu meio-irmão Melkin.
"Afaste-se", disse Melkin, recuando e sacando também sua espada. "Não pense que não ouvi as palavras do vidente. Não vou lhe dar oportunidade de me apunhalar". E Melkin então se virou e saiu correndo pela porta.
"Todos vocês morrerão esta noite", disse o Sábio, olhando para os mortos, e depois para o único outro homem vivo que restou no quarto, Rul. "Eu disse ao rei para não trazer o vidente. Sinto muito, meu bom Rul". Lágrimas corriam pelo seu rosto.
"Ninguém escapa do destino profetizado por Alghur", disse Rul, também olhando para os mortos. "Se o meu é acompanhar minha família nesta última jornada, que assim seja". E nada mais falou.
E assim foi, que o amanhecer foi marcado pelas badaladas do sino, anunciado a morte de um rei e três príncipes.
Brunilde, a doce Brunilde, que enlouqueceu no exílio, vivendo apenas pelo sonho de um dia recuperar seu trono, foi encontrada no estábulo, ainda segurando uma faca ensanguentada em sua mão. A seus pés, jazia seu filho, Melkin, o traidor, assim chamado porque traíra os votos de devoção a seu Deus para resgatar sua mãe. Deste dia em dia, foi conhecido como Melkin, o traído. Brunilde apenas repetia, incessantemente, que seu filho lhe prometera seu reino de volta, e que agora queria fugir e levá-la para um novo exílio.
Todos os nobres da corte foram ao enterro, e acompanharam o transporte de cada um dos quatro caixões. Um a um, o rei e seus príncipes seriam guardados na cripta real.
O Rei Viajante. Ledrik matador de videntes. Melkin, o traído. Rul, o trapaceiro.
Um a um, foram colocados na cripta, para seus restos mortais descansarem em meio a seus antepassados.
Os ossos do Rei Viajante passariam a eternidade junto com o dos antigos reis.
Os ossos de Ledrik seriam, muitos meses depois, roubados pela mulher que ele um dia amou, e jogados aos cães.
Os ossos de Melkin seriam, longos anos depois, transportados para Terth, para descansarem junto com os de sua mãe.
Os ossos de Rul acompanharam o restante de seu corpo, na noite daquele dia, quando ele se levantou e partiu para viver novas aventuras.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Principe Melvin, Matador de Dragões
O dragão me esmaga contra o chão, sua pata em cima de meu escudo. É difícil respirar. Minha espada esta caída, quebrada e além do meu alcance.
O dragão fala.
- Aposto que você achou que seria fácil me vencer, não é, criança? Aposto que veio aqui com a cabeça cheia de histórias dos homens, histórias de heróis matando dragões e resgatando princesas. Você sabia que nós dragões também contamos histórias?
Eu tento tirar minhã mão esquerda por baixo do escudo. Em minhas roupas eu tenho uma ORB mística, a ORB de meu pai, o Rei Magnus. Grandurf, o mago, me disse para somente usá-la na minha hora mais desesperada.
- O que houve? Não consegue falar? - o dragão solta ligeiramente o peso, me permitindo respirar melhor e mover um pouco o braço. - o dragão comeu sua lingua?
Eu tenho que distraí-lo, mantê-lo ocupado tempo suficiente para conseguir pegar a ORB.
- Solte-me e enfrente-me se tem coragem, dragão. Você nunca mais aterrorizará a vila de Mathigan.
- Enfrentá-lo? Eu acho que acabei de enfrentá-lo. E você perdeu. Quem você pensou que era para enfrentar um Dragão, garotinho? Mais um herói que acha que vai viver feliz para sempre?
Era verdade que eu tinha sido derrotado. Minha espada encantada, enfeitiçada pelo próprio Grandurf, se quebrou na pele do dragão. Mas a ORB era de um feitiço ainda mais antigo, estava a gerações na minha família, Grandurf me contou. Meus dedos estavam encostando nela, mas eu precisava segurá-la em minha mão para usá-la. Se eu apenas puder puxá-la com a ponta dos dedos...
- Eu sou Melvin, o verdadeiro príncipe perdido e herdeiro das terras do norte, destinado a libertar nosso reino de todos os dragões e criaturas místicas. Eu vim para libertar esta vila de seu domínio.
- Ah, Grandurf o encontrou e lhe contou seu verdadeiro destino, eu aposto. E o que você era antes de Grandurf visitá-lo e revelar sua verdadeira origem? Um camponês? Um criador de ovelhas? Adoro histórias humanas, nelas vocês sempre são príncipeis e herdeiros de tronos.
Duas semanas atrás, eu pensava ser apenas um aprendiz de ferreiro, morando com meu tio, ou melhor, com um homem que dizia ser meu tio. Mas na verdade eu sempre soube que era diferente, que corria sangue nobre em mim. Quando Grandurf me encontrou, e me revelou minha verdadeira origem, tudo fez sentido. Eu era o príncipe perdido, e a profecia dizia que eu livraria o mundo dos dragões.
Começo a puxar a ORB das minhas roupas com meus dedos e adquiro nova confiança. Mais alguns segundos e poderei usar seu poder.
- Grandurf me treinou, dragão, me treinou para vencer criaturas como você. Eu vou salvar a vila de Mathigan.
- Claro que vai, você vai salvar a vila de Mathigan por um mês inteiro, até eu ter fome novamente. Até o próximo príncipe perdido vir me enfrentar.
Minha mão se fecha na ORB..
- Eu vou derrotá-lo, dragão, vou derrotá-lo com magia mais antiga que sua espécie. Vou derrotá-lo com a ORB dos matadores de dragões, entregue em minhas mãos pelo próprio Grandurf - e me concentro na ORB, uso toda minha força de vontade para ativá-la.
Nada acontece.
- A ORB de Grandurf? Grandurf, que convenceu-o que você era um príncipe? Grandurf, que traz um novo garoto aqui a cada mês, para que eu continue poupando sua vila? Grandurf que encheu sua cabeça das histórias humanas, que terminam com os heróis vencendo e vivendo felizes para sempre?
O pavor toma conta de mim.
- As histórias de dragões são mais simples. Elas sempre terminam com uma refeição. E você sabe qual nossa comida favorita?
Eu apenas balanço a cabeça, em sinal de não. O dragão abre a boca, e então um jato de fogo me envolve.
- Carne assada.
O dragão fala.
- Aposto que você achou que seria fácil me vencer, não é, criança? Aposto que veio aqui com a cabeça cheia de histórias dos homens, histórias de heróis matando dragões e resgatando princesas. Você sabia que nós dragões também contamos histórias?
Eu tento tirar minhã mão esquerda por baixo do escudo. Em minhas roupas eu tenho uma ORB mística, a ORB de meu pai, o Rei Magnus. Grandurf, o mago, me disse para somente usá-la na minha hora mais desesperada.
- O que houve? Não consegue falar? - o dragão solta ligeiramente o peso, me permitindo respirar melhor e mover um pouco o braço. - o dragão comeu sua lingua?
Eu tenho que distraí-lo, mantê-lo ocupado tempo suficiente para conseguir pegar a ORB.
- Solte-me e enfrente-me se tem coragem, dragão. Você nunca mais aterrorizará a vila de Mathigan.
- Enfrentá-lo? Eu acho que acabei de enfrentá-lo. E você perdeu. Quem você pensou que era para enfrentar um Dragão, garotinho? Mais um herói que acha que vai viver feliz para sempre?
Era verdade que eu tinha sido derrotado. Minha espada encantada, enfeitiçada pelo próprio Grandurf, se quebrou na pele do dragão. Mas a ORB era de um feitiço ainda mais antigo, estava a gerações na minha família, Grandurf me contou. Meus dedos estavam encostando nela, mas eu precisava segurá-la em minha mão para usá-la. Se eu apenas puder puxá-la com a ponta dos dedos...
- Eu sou Melvin, o verdadeiro príncipe perdido e herdeiro das terras do norte, destinado a libertar nosso reino de todos os dragões e criaturas místicas. Eu vim para libertar esta vila de seu domínio.
- Ah, Grandurf o encontrou e lhe contou seu verdadeiro destino, eu aposto. E o que você era antes de Grandurf visitá-lo e revelar sua verdadeira origem? Um camponês? Um criador de ovelhas? Adoro histórias humanas, nelas vocês sempre são príncipeis e herdeiros de tronos.
Duas semanas atrás, eu pensava ser apenas um aprendiz de ferreiro, morando com meu tio, ou melhor, com um homem que dizia ser meu tio. Mas na verdade eu sempre soube que era diferente, que corria sangue nobre em mim. Quando Grandurf me encontrou, e me revelou minha verdadeira origem, tudo fez sentido. Eu era o príncipe perdido, e a profecia dizia que eu livraria o mundo dos dragões.
Começo a puxar a ORB das minhas roupas com meus dedos e adquiro nova confiança. Mais alguns segundos e poderei usar seu poder.
- Grandurf me treinou, dragão, me treinou para vencer criaturas como você. Eu vou salvar a vila de Mathigan.
- Claro que vai, você vai salvar a vila de Mathigan por um mês inteiro, até eu ter fome novamente. Até o próximo príncipe perdido vir me enfrentar.
Minha mão se fecha na ORB..
- Eu vou derrotá-lo, dragão, vou derrotá-lo com magia mais antiga que sua espécie. Vou derrotá-lo com a ORB dos matadores de dragões, entregue em minhas mãos pelo próprio Grandurf - e me concentro na ORB, uso toda minha força de vontade para ativá-la.
Nada acontece.
- A ORB de Grandurf? Grandurf, que convenceu-o que você era um príncipe? Grandurf, que traz um novo garoto aqui a cada mês, para que eu continue poupando sua vila? Grandurf que encheu sua cabeça das histórias humanas, que terminam com os heróis vencendo e vivendo felizes para sempre?
O pavor toma conta de mim.
- As histórias de dragões são mais simples. Elas sempre terminam com uma refeição. E você sabe qual nossa comida favorita?
Eu apenas balanço a cabeça, em sinal de não. O dragão abre a boca, e então um jato de fogo me envolve.
- Carne assada.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Ana - Terrorista/6
Ana estava sentada em um banco da praça Iwasaki, como se fosse apenas mais uma jovem aproveitando uma folga. Alguns metros a frente, algumas crianças brincavam um jogo virtual, com mini-dragões soltando fogo e pequenos castelos surgindo do chão. Um homem alto, aparentando trinta e poucos anos, vestindo um sobretudo escuro, estava sentado a seu lado.
Homenagem ao avô japonês de Antônio Santos Wu, recém falecido fundador da Corporação Wu, a praça Iwasaki era mapeada em estilo japonês antigo, com templos xintoístas, jardins de pedras e avatares de monges budistas orientando os visitantes. Combinando com o ambiente, o rosto de Ana agora trazia leves traços orientais, mas ainda transmitia a impressão de uma jovem. Sua idade aparente era o assunto da conversa com o homem a seu lado.
- Não entendo sua preocupação, Hector. Vocês, humanos, vivem alterando suas aparências, sua idade, até mesmo seu sexo. Porque é tão estranho fazermos o mesmo? - Enquanto falava, ela acompanhava atentamente as crianças a brincar. Um observador atento perceberia que era um garoto em particular que prendia sua atenção.
- Talvez não seja, mas eu esperava que você voltasse a idade que sempre aparentou, seus trinta e poucos anos, depois de terminada sua última missão. Mas você está mantendo a mesma idade que usou para se aproximar de Mary.
- Eu complementei minha missão, a navegadora não está mais a serviço da corporação. Além disto, Wu, o velho, está morto. Eles nunca estiveram tão vulneráveis, Hector. Não vejo por que está preocupado com a minha aparência, quando estamos fazendo nossa parte do plano de forma perfeita.
- Não estou preocupado com o plano, Ana. Estou preocupado com você.
- Preocupado comigo? - Ana deu uma leve risada, enquanto Hector a olhava, atentamente.
- Talvez esteja gostando desta Mary mais do que quer admitir.
- Hector, temos trabalhado muito próximos há anos para derrubar a corporação e tudo que ela representa. Sei que você gostaria que eu tivesse o mesmo tipo de sentimentos que vocês têm, mas, eu já lhe disse, eu não sou humana. Eu não sinto nada pela navegadora - Ana faz uma pausa, como se estivesse hesitando em continuar - nem por você. Sinto muito.
O rosto de Hector se fechou, por um instante - não é isto. Não estou com ciúmes. Só preocupado.
- Não se preocupe. Retomamos o contato amanhã?
- Como sempre. Espero trazer novidades.
Hector se levantou, deu alguns passos, e desapareceu do cenário virtual. Ana voltou a olhar para as crianças que brincavam a sua frente, ainda mantendo sua atenção no mesmo garoto, uma criança de uns oito anos.
Por dez, talvez quinze minutos, as crianças jogaram, alheias a jovem que as observava. Um complexo jogo de estratégia e fantasia se desenrolava, com castelos se levantando do chão, para em seguida serem derrubados por dragões.
O garoto que Ana observava era possivelmente o mais habilidoso no jogo, mas não estava ganhando. Jogava defensivamente, mais construindo castelos e proteções que criando dragões para destruir os dos oponentes. Mesmo sem estar na frente, havia construído o mais forte castelo, e fortificáva-o agora cada vez mais. Não venceria, mas quando o jogo terminasse, também não teria sido derrotado.
O garoto olhou ao redor, no centro de seu pequeno castelo virtual. As muralhas eram translúcidas, e ele podia ver três ou quatro pequenos dragões tentando, sem sucesso, derrubar as paredes que ele levantou, e os outros jogadores mais ao longe. O banco da praça também era visível, mas ele não chegou a perceber que não havia mais ninguém nele.
- Quando construir um castelo, não esqueça de proteger as paredes de trás tão bem quanto as da frente - o garoto se virou, pulando de susto. Atrás, um pequeno dragão negro o olhava.
- Ok, perdi - ele respondeu, resignado. - Você é o dragão de quem?
- De nenhum de seus amigos. Eu sou um dragão mensageiro.
- Hein? Nunca ouvi isto. Mensageiro de quem?
- Diga a seu pai que você tem uma mensagem de Ana para ele. Diga a Tanho que, se algo acontecer a Mary, eu vou voltar a ver você, e algo muito pior do que isto vai acontecer.
- Isto o que?
O Dragão não respondeu. Ele abriu sua boca e dela saiu um jato de fogo, que queimou completamente o avatar de Timothy.
Homenagem ao avô japonês de Antônio Santos Wu, recém falecido fundador da Corporação Wu, a praça Iwasaki era mapeada em estilo japonês antigo, com templos xintoístas, jardins de pedras e avatares de monges budistas orientando os visitantes. Combinando com o ambiente, o rosto de Ana agora trazia leves traços orientais, mas ainda transmitia a impressão de uma jovem. Sua idade aparente era o assunto da conversa com o homem a seu lado.
- Não entendo sua preocupação, Hector. Vocês, humanos, vivem alterando suas aparências, sua idade, até mesmo seu sexo. Porque é tão estranho fazermos o mesmo? - Enquanto falava, ela acompanhava atentamente as crianças a brincar. Um observador atento perceberia que era um garoto em particular que prendia sua atenção.
- Talvez não seja, mas eu esperava que você voltasse a idade que sempre aparentou, seus trinta e poucos anos, depois de terminada sua última missão. Mas você está mantendo a mesma idade que usou para se aproximar de Mary.
- Eu complementei minha missão, a navegadora não está mais a serviço da corporação. Além disto, Wu, o velho, está morto. Eles nunca estiveram tão vulneráveis, Hector. Não vejo por que está preocupado com a minha aparência, quando estamos fazendo nossa parte do plano de forma perfeita.
- Não estou preocupado com o plano, Ana. Estou preocupado com você.
- Preocupado comigo? - Ana deu uma leve risada, enquanto Hector a olhava, atentamente.
- Talvez esteja gostando desta Mary mais do que quer admitir.
- Hector, temos trabalhado muito próximos há anos para derrubar a corporação e tudo que ela representa. Sei que você gostaria que eu tivesse o mesmo tipo de sentimentos que vocês têm, mas, eu já lhe disse, eu não sou humana. Eu não sinto nada pela navegadora - Ana faz uma pausa, como se estivesse hesitando em continuar - nem por você. Sinto muito.
O rosto de Hector se fechou, por um instante - não é isto. Não estou com ciúmes. Só preocupado.
- Não se preocupe. Retomamos o contato amanhã?
- Como sempre. Espero trazer novidades.
Hector se levantou, deu alguns passos, e desapareceu do cenário virtual. Ana voltou a olhar para as crianças que brincavam a sua frente, ainda mantendo sua atenção no mesmo garoto, uma criança de uns oito anos.
Por dez, talvez quinze minutos, as crianças jogaram, alheias a jovem que as observava. Um complexo jogo de estratégia e fantasia se desenrolava, com castelos se levantando do chão, para em seguida serem derrubados por dragões.
O garoto que Ana observava era possivelmente o mais habilidoso no jogo, mas não estava ganhando. Jogava defensivamente, mais construindo castelos e proteções que criando dragões para destruir os dos oponentes. Mesmo sem estar na frente, havia construído o mais forte castelo, e fortificáva-o agora cada vez mais. Não venceria, mas quando o jogo terminasse, também não teria sido derrotado.
O garoto olhou ao redor, no centro de seu pequeno castelo virtual. As muralhas eram translúcidas, e ele podia ver três ou quatro pequenos dragões tentando, sem sucesso, derrubar as paredes que ele levantou, e os outros jogadores mais ao longe. O banco da praça também era visível, mas ele não chegou a perceber que não havia mais ninguém nele.
- Quando construir um castelo, não esqueça de proteger as paredes de trás tão bem quanto as da frente - o garoto se virou, pulando de susto. Atrás, um pequeno dragão negro o olhava.
- Ok, perdi - ele respondeu, resignado. - Você é o dragão de quem?
- De nenhum de seus amigos. Eu sou um dragão mensageiro.
- Hein? Nunca ouvi isto. Mensageiro de quem?
- Diga a seu pai que você tem uma mensagem de Ana para ele. Diga a Tanho que, se algo acontecer a Mary, eu vou voltar a ver você, e algo muito pior do que isto vai acontecer.
- Isto o que?
O Dragão não respondeu. Ele abriu sua boca e dela saiu um jato de fogo, que queimou completamente o avatar de Timothy.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
A Falsa Invasão Alienígena
"Meu pai costumava dizer que há um, e apenas um grande evento que marca cada geração", a voz do congressista Jason Brin era baixa, as mãos enrugadas ligeiramente trêmulas, os olhos focados no documento que acabara de receber. Dois homens estavam sentados em uma mesa, a sua frente. A seu lado, seu amigo e assessor, Dennis Smith.
"Para meu bisavô, foi Pearl Harbor", Brin continuou, "para meu avô, Neil Armstrong pisando na lua. O 11 de setembro, para meu pai." Ele ergueu os olhos para os dois homens a sua frente. "Acho que todos sabemos qual foi o evento que marcou nossa geração. Eu estava no congresso no dia que o presidente declarou lei marcial e avisou que uma frota alienígena estava vindo para a Terra. E vocês estão me dizendo que foi uma mentira."
"Sabemos que é difícil de acreditar, Senhor Brin. Seu assessor também estava cético quando mostramos este documento pela primeira vez". O mais alto dos dois respondeu, e olhou para Dennis.
"Jason, eu receio que não temos escolha além de levar isto ao público. Eu revisei e investiguei cada um dos relatos contidos aqui. Inclusive estive em Roswell e na área 51. É tudo verdade, estamos diante da maior fraude já realizada por líderes de uma nação". Dennis tinha uma voz grave, mas tranquila e firme. Era quase impossível vê-lo zangado ou perdendo o controle.
"Três nações, Dennis. Pelo que estes cavalheiros estão dizendo, os líderes da Rússia e China participaram, junto com nosso presidente, de uma fraude", o Senhor Brin desviou os olhos de seu amigo, e olhou novamente para os dois homens. Ambos estavam de terno e gravata pretos, e óculos escuros. "Se eu entendi corretamente, vocês afirmam que não vai haver nenhuma invasão alienígena. Mais que isto, que desde a época de Roswell, os Estados Unidos fazem parte de um complô mundial para nos fazer acreditar em UFOs e alienígenas.", ele suspirou, "Perdoem-me se estou descrente".
"Na verdade, senhor Brin, as coisas não aconteceram exatamente desta forma. Nós não acreditamos que ouvesse algo tão abrangente planejado na época de Roswell, as mentiras simplesmente foram crescendo de tamanho."
"Eu sei que parece loucura à primeira vista, Jason", Dennis interrompeu o homem de preto. Carl era seu nome, enquanto o menor, até então em silêncio, se chamava Vincent. "Mas quando olhamos passo a passo, as coisas começam a fazer mais sentido. Em Roswell eles apenas queriam esconder a queda do primeiro avião invisível ao radar, e inventaram uma explicação oficial, com um balão metereológico, e um complô, envolvendo alienígenas que teriam caído aqui."
"A tática funcionou melhor que eles esperavam", Carl continuou a explicação de Dennis, "A melhor forma de esconder uma informação é fingir que você está escondendo outra. Quem não acreditou na explicação sobre um balão começou a investigar e ouvir boatos sobre alienígenas. A verdade ficou protegida".
"Ok", Jazon Brin levantou ligeiramente as mãos, em um sinal para ambos pararem, "Esta parte até posso entender. Mesmo todos os outros relatos de UFOs, teoricamente escondidos pelas autoridades, mas na verdade criados por elas para desviar nossa atenção, tudo isto eu posso aceitar. Mas como vocês querem que eu acredite que a invasão alienígena contra a qual estamos nos preparando nos últimos dez anos não existe? Eu vi as fotos não apenas dos nossos telescópios, mas também dos russos e chineses".
"É justamente a ação em conjunto das três nações que fez o mundo acreditar, senhor Brin. A guerra sempre foi um instrumento fundamental da política, mas como é possível fazer guerras quando as grandes potências todas têm armas nucleares? Os Estados Unidos precisavam fomentar suas indústrias, os Chineses precisavam desviar a atenção de sua nova classe média, antes que novas revoltas eclodissem. Quanto aos Russos, bom, eles nunca precisaram de muitos motivos para mentir para seu povo, não?".
"Eu analisei todo este material, Jason, inclusive enviei partes dele para diferentes especialistas. As fotos de nossos telescópios, de naves inimigas se aproximando do sistema solar, são falsas. A grande revelação do presidente, de que havia realmente caído uma nave alienígena em Roswell, foi uma mentira. Tudo foi armado para permitir a declaração de lei marcial e a implantação das reformas econômicas."
O congressista folhou o documento, mas ele sabia que Dennis era extremamente meticuloso, e um perito em encontrar a verdade e reconhecer falsificações.
"Muito bem. Estarei arriscando meu futuro político, mas eu vou levar isto ao congresso, e será investigado. No mínimo vamos interromper toda esta maluquice de produção de armas e abrigos nucleares, até sabermos verdadeiramente o que está por trás de tudo isto".
"Jason, meu amigo", Dennis colocou a mão em seu ombro, "eu creio que você estava errado sobre o grande marco de nosso tempo. O evento que marcará nossa geração será seu discurso, revelando a maior fraude da história."
"Veremos". O congressista e seu assessor se levantaram, e se despediram dos dois homens vestidos de preto.
"O que você acha que vai acontecer agora", o homem mais alto perguntou para o outro, assim que ficaram sozinhos.
"Você conhece o congresso. Eles vão passar os próximos meses em comissões de inquérito e investigações, e tudo vai estar paralisado enquanto isto".
"E depois?".
O homem mais baixo sorri. "Depois, é claro, iniciamos a invasão".
"Para meu bisavô, foi Pearl Harbor", Brin continuou, "para meu avô, Neil Armstrong pisando na lua. O 11 de setembro, para meu pai." Ele ergueu os olhos para os dois homens a sua frente. "Acho que todos sabemos qual foi o evento que marcou nossa geração. Eu estava no congresso no dia que o presidente declarou lei marcial e avisou que uma frota alienígena estava vindo para a Terra. E vocês estão me dizendo que foi uma mentira."
"Sabemos que é difícil de acreditar, Senhor Brin. Seu assessor também estava cético quando mostramos este documento pela primeira vez". O mais alto dos dois respondeu, e olhou para Dennis.
"Jason, eu receio que não temos escolha além de levar isto ao público. Eu revisei e investiguei cada um dos relatos contidos aqui. Inclusive estive em Roswell e na área 51. É tudo verdade, estamos diante da maior fraude já realizada por líderes de uma nação". Dennis tinha uma voz grave, mas tranquila e firme. Era quase impossível vê-lo zangado ou perdendo o controle.
"Três nações, Dennis. Pelo que estes cavalheiros estão dizendo, os líderes da Rússia e China participaram, junto com nosso presidente, de uma fraude", o Senhor Brin desviou os olhos de seu amigo, e olhou novamente para os dois homens. Ambos estavam de terno e gravata pretos, e óculos escuros. "Se eu entendi corretamente, vocês afirmam que não vai haver nenhuma invasão alienígena. Mais que isto, que desde a época de Roswell, os Estados Unidos fazem parte de um complô mundial para nos fazer acreditar em UFOs e alienígenas.", ele suspirou, "Perdoem-me se estou descrente".
"Na verdade, senhor Brin, as coisas não aconteceram exatamente desta forma. Nós não acreditamos que ouvesse algo tão abrangente planejado na época de Roswell, as mentiras simplesmente foram crescendo de tamanho."
"Eu sei que parece loucura à primeira vista, Jason", Dennis interrompeu o homem de preto. Carl era seu nome, enquanto o menor, até então em silêncio, se chamava Vincent. "Mas quando olhamos passo a passo, as coisas começam a fazer mais sentido. Em Roswell eles apenas queriam esconder a queda do primeiro avião invisível ao radar, e inventaram uma explicação oficial, com um balão metereológico, e um complô, envolvendo alienígenas que teriam caído aqui."
"A tática funcionou melhor que eles esperavam", Carl continuou a explicação de Dennis, "A melhor forma de esconder uma informação é fingir que você está escondendo outra. Quem não acreditou na explicação sobre um balão começou a investigar e ouvir boatos sobre alienígenas. A verdade ficou protegida".
"Ok", Jazon Brin levantou ligeiramente as mãos, em um sinal para ambos pararem, "Esta parte até posso entender. Mesmo todos os outros relatos de UFOs, teoricamente escondidos pelas autoridades, mas na verdade criados por elas para desviar nossa atenção, tudo isto eu posso aceitar. Mas como vocês querem que eu acredite que a invasão alienígena contra a qual estamos nos preparando nos últimos dez anos não existe? Eu vi as fotos não apenas dos nossos telescópios, mas também dos russos e chineses".
"É justamente a ação em conjunto das três nações que fez o mundo acreditar, senhor Brin. A guerra sempre foi um instrumento fundamental da política, mas como é possível fazer guerras quando as grandes potências todas têm armas nucleares? Os Estados Unidos precisavam fomentar suas indústrias, os Chineses precisavam desviar a atenção de sua nova classe média, antes que novas revoltas eclodissem. Quanto aos Russos, bom, eles nunca precisaram de muitos motivos para mentir para seu povo, não?".
"Eu analisei todo este material, Jason, inclusive enviei partes dele para diferentes especialistas. As fotos de nossos telescópios, de naves inimigas se aproximando do sistema solar, são falsas. A grande revelação do presidente, de que havia realmente caído uma nave alienígena em Roswell, foi uma mentira. Tudo foi armado para permitir a declaração de lei marcial e a implantação das reformas econômicas."
O congressista folhou o documento, mas ele sabia que Dennis era extremamente meticuloso, e um perito em encontrar a verdade e reconhecer falsificações.
"Muito bem. Estarei arriscando meu futuro político, mas eu vou levar isto ao congresso, e será investigado. No mínimo vamos interromper toda esta maluquice de produção de armas e abrigos nucleares, até sabermos verdadeiramente o que está por trás de tudo isto".
"Jason, meu amigo", Dennis colocou a mão em seu ombro, "eu creio que você estava errado sobre o grande marco de nosso tempo. O evento que marcará nossa geração será seu discurso, revelando a maior fraude da história."
"Veremos". O congressista e seu assessor se levantaram, e se despediram dos dois homens vestidos de preto.
"O que você acha que vai acontecer agora", o homem mais alto perguntou para o outro, assim que ficaram sozinhos.
"Você conhece o congresso. Eles vão passar os próximos meses em comissões de inquérito e investigações, e tudo vai estar paralisado enquanto isto".
"E depois?".
O homem mais baixo sorri. "Depois, é claro, iniciamos a invasão".
domingo, 14 de agosto de 2011
Família - Terrorista/5
- Como se atreve? Quem você pensa que é para se dizer filha de meu marido - A mulher foi a primeira a falar, a voz alterada, gritando. Eu apenas baixei a cabeça, sem saber o que dizer. Estava para me levantar e sair pela mesma porta que entrei.
- Calma, Silvia, meu amor. Deixe-me pelo menos entender. - Ele olhou para mim, seu rosto não demonstrando fúria, apenas confusão. - Você é uma das... - ele hesitou um segundo, como se escolhendo a palavra certa - uma das filhas de Margareth?
Eu assenti com a cabeça, a garganta trancada. Por que vim aqui? Ele não é meu pai, não importa o que eu tenha dito, não verdadeiramente. Depois consegui falar o suficiente para responder, a voz quase inaudível - Na verdade a única. A única viva.
- Não estou entendendo. Quem é Margareth? E quem é ela? - O garoto. Meu irmão? Será que ele é parecido comigo? O quanto do que eu sou é genético, o quanto é a manipulação? Eu não devia ter vindo, não devia.
- Olhem, me desculpem, eu só vim porque não sabia mais o que fazer, mas me desculpem - Eu peguei minha mochila, largada nos meus pés quando me sentei, e me levantei.
- Espere - Ele me segurou o braço. - Olha, não é como se eu fosse realmente seu pai. Eu nem sabia que você existia. Margareth só tinha usado nosso DNA para produzir - Ele hesitou novamente, não procurando uma palavra, apenas em dúvida do quanto deveria dizer. - Eu não sabia que ela teve uma filha normal.
Normal. Ele achava que eu era normal, não apenas outro experimento de minha mãe. Eu tentei soltar meu braço, mas ele continuou me segurando, firme. - Deixe-me ir - Eu falei. Meus olhos ameaçando novamente lacrimejar. Droga.
- Você não precisa sair ainda. Ninguém aqui vai entregá-la. Já que veio até aqui, vamos pelo menos conversar.
- Deixe-a ir - a voz da mulher. Eu não olhei para ela, mantive os olhos no chão.
- Ela é minha irmã? - O garoto. Fiquei feliz em apenas ouvir isto. Quando criança eu sonhava em ter um irmão, um irmão normal, não como minhas irmãs. Um calafrio me percorreu ao me lembrar delas.
- Silvia, por favor, leve Pedro para o quarto. Eu quero falar a sós com, como é mesmo seu nome?
- Mary. - A mulher sai levando o garoto. Achei que ela iria protestar.
- Sente-se de novo, e vamos conversar, está bem.
Eu me sentei, e naturalmente as perguntas começaram. Felizmente eu sabia as respostas, mesmo as que eu não deveria saber. Algumas não eram o que ele imaginava ouvir.
Ele ouviu mais do que falou, e quando dei por mim, havia revelado mais do que pretendia. Ao final eu estava chorando.
Ele então falou. Tentando se justificar, talvez? Se sentia culpado?
- Margareth e eu queríamos ter filhos, isto foi há quase trinta anos. Era o auge das experiências com neurônios melhorados. Já era comum crianças com 5% ou mais deles, para tratamento de doenças, sem nenhuma alteração cognitiva. Estávamos certos que funcionaria. Que poderíamos ter filhos com 100% dos neurônios otimizados. Havia simulações completas em computador que garantiam que nada daria errado.
Ele respirou fundo, e continuou - Foi por isto que nos separamos, porque ela queria continuar os experimentos, gerar novas crianças, até descobrir o que deu errado. Simplesmente descartar os autistas e psicopatas, e continuar tentando.
- Eles continuam até hoje - eu falei, em voz baixa. - Estão mais perto de fazer funcionar.
- E, no entanto, você está me dizendo que ela usou nosso DNA em você. Que depois de todos os experimentos, ela resolver gerar uma criança normal.
Eu tentei rir, mas o som que saiu de minha garganta não pareceu em nada uma risada.
- Normal, papai? - eu forço a palavra. Uma provocação? O que deu em mim? - Eu sou só mais um dos experimentos de Margareth.
* * *
O escritório virtual de Vincent, na corporação GenSynth, era todo branco, com poucos adornos, uma mesa e duas cadeiras mapeadas. Uma mulher estava sentada em uma delas, enquanto ele estava de pé, ao lado da mesa.
- Ela disse ser filha de Benjamim. - A voz da mulher perfeita demais para ser natural.
- Mary. A navegadora da Corporação Wu. Não a vimos na rede há dias. Devem estar procurando por ela.
- O que devo fazer?
- Nada, por enquanto. Não queremos fazer nada que comprometa sua posição. Apenas mantenha contato. - Com um gesto, Vincent cortou a conexão, e a mulher desapareceu.
Ele ficou em silêncio, imóvel, por mais alguns minutos, apenas planejando seu próximo passo. Depois, voltou a seu trabalho.
- Calma, Silvia, meu amor. Deixe-me pelo menos entender. - Ele olhou para mim, seu rosto não demonstrando fúria, apenas confusão. - Você é uma das... - ele hesitou um segundo, como se escolhendo a palavra certa - uma das filhas de Margareth?
Eu assenti com a cabeça, a garganta trancada. Por que vim aqui? Ele não é meu pai, não importa o que eu tenha dito, não verdadeiramente. Depois consegui falar o suficiente para responder, a voz quase inaudível - Na verdade a única. A única viva.
- Não estou entendendo. Quem é Margareth? E quem é ela? - O garoto. Meu irmão? Será que ele é parecido comigo? O quanto do que eu sou é genético, o quanto é a manipulação? Eu não devia ter vindo, não devia.
- Olhem, me desculpem, eu só vim porque não sabia mais o que fazer, mas me desculpem - Eu peguei minha mochila, largada nos meus pés quando me sentei, e me levantei.
- Espere - Ele me segurou o braço. - Olha, não é como se eu fosse realmente seu pai. Eu nem sabia que você existia. Margareth só tinha usado nosso DNA para produzir - Ele hesitou novamente, não procurando uma palavra, apenas em dúvida do quanto deveria dizer. - Eu não sabia que ela teve uma filha normal.
Normal. Ele achava que eu era normal, não apenas outro experimento de minha mãe. Eu tentei soltar meu braço, mas ele continuou me segurando, firme. - Deixe-me ir - Eu falei. Meus olhos ameaçando novamente lacrimejar. Droga.
- Você não precisa sair ainda. Ninguém aqui vai entregá-la. Já que veio até aqui, vamos pelo menos conversar.
- Deixe-a ir - a voz da mulher. Eu não olhei para ela, mantive os olhos no chão.
- Ela é minha irmã? - O garoto. Fiquei feliz em apenas ouvir isto. Quando criança eu sonhava em ter um irmão, um irmão normal, não como minhas irmãs. Um calafrio me percorreu ao me lembrar delas.
- Silvia, por favor, leve Pedro para o quarto. Eu quero falar a sós com, como é mesmo seu nome?
- Mary. - A mulher sai levando o garoto. Achei que ela iria protestar.
- Sente-se de novo, e vamos conversar, está bem.
Eu me sentei, e naturalmente as perguntas começaram. Felizmente eu sabia as respostas, mesmo as que eu não deveria saber. Algumas não eram o que ele imaginava ouvir.
Ele ouviu mais do que falou, e quando dei por mim, havia revelado mais do que pretendia. Ao final eu estava chorando.
Ele então falou. Tentando se justificar, talvez? Se sentia culpado?
- Margareth e eu queríamos ter filhos, isto foi há quase trinta anos. Era o auge das experiências com neurônios melhorados. Já era comum crianças com 5% ou mais deles, para tratamento de doenças, sem nenhuma alteração cognitiva. Estávamos certos que funcionaria. Que poderíamos ter filhos com 100% dos neurônios otimizados. Havia simulações completas em computador que garantiam que nada daria errado.
Ele respirou fundo, e continuou - Foi por isto que nos separamos, porque ela queria continuar os experimentos, gerar novas crianças, até descobrir o que deu errado. Simplesmente descartar os autistas e psicopatas, e continuar tentando.
- Eles continuam até hoje - eu falei, em voz baixa. - Estão mais perto de fazer funcionar.
- E, no entanto, você está me dizendo que ela usou nosso DNA em você. Que depois de todos os experimentos, ela resolver gerar uma criança normal.
Eu tentei rir, mas o som que saiu de minha garganta não pareceu em nada uma risada.
- Normal, papai? - eu forço a palavra. Uma provocação? O que deu em mim? - Eu sou só mais um dos experimentos de Margareth.
* * *
O escritório virtual de Vincent, na corporação GenSynth, era todo branco, com poucos adornos, uma mesa e duas cadeiras mapeadas. Uma mulher estava sentada em uma delas, enquanto ele estava de pé, ao lado da mesa.
- Ela disse ser filha de Benjamim. - A voz da mulher perfeita demais para ser natural.
- Mary. A navegadora da Corporação Wu. Não a vimos na rede há dias. Devem estar procurando por ela.
- O que devo fazer?
- Nada, por enquanto. Não queremos fazer nada que comprometa sua posição. Apenas mantenha contato. - Com um gesto, Vincent cortou a conexão, e a mulher desapareceu.
Ele ficou em silêncio, imóvel, por mais alguns minutos, apenas planejando seu próximo passo. Depois, voltou a seu trabalho.
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Rhenos, Viajante do Tempo, e a Derrota da Grécia
Com a derrota da Grécia e sua conquista pelos Persas, uma nova história seria escrita, mais especificamente uma nova história do planeta Terra e da humanidade.
Era um risco para o império Therquiano, mas um risco que teríamos que correr. Todos os cuidados foram tomados, e, agora, desde que eu não tivesse cometido nenhum erro, a incorporação da Terra no império estaria garantida.
E eu não cometi erros.
Eu olhei em direção ao desfiladeiro a frente, as Thermopylai. Na história que aprendi deste mundo, um passado distante para meus mestres Therquianos, mas o futuro em relação a meu nascimento na terra, aqui iniciaria a derrota de Xerxes e seu exército. Durante dias, milhares de gregos, liderados pelos espartano, deteriam todas as centenas de milhares de soldados do império Persa. O atraso, somado ao impacto na moral das tropas, faria a diferença que resultaria na vitória grega.
Eu garanti ao rei Xerxes que nesta realidade a história seria diferente.
O rei se aproximou, para me consultar uma última vez antes da batalha. Finalmente eu havia conquistado sua confiança, após meses mostrando o valor de minhas palavras.
- Ainda reluto em acreditar no que dizes, enviado dos Deuses. Mesmo com todas as vantagens que o terreno lhes concede, poderiam mesmo alguns poucos milhares de espartanos deter o avanço de meu exército?
- Meu rei, como lhe disse, não há outro exército nesta época que se compare ao de Esparta. Por isto insisti tanto que tentasse de todas as formas que eles não participassem desta guerra.
- Os espartanos são tolos, mas tolos teimosos, e recusaram minhas ofertas.
- Os deuses me mostraram o futuro meu Rei, e embora saiba o quanto minhas palavras o feriram, a verdade é que serias derrotado nesta guerra. Felizmente conseguimos outra forma para garantir que o exército de Esparta não estaria aqui.
- Sem o apoio dos deuses, nenhuma vitória é garantida. Mas vieste para me trazer a visão dos deuses, e também para me garantir a vitória.
- Vivo para servi-lo, meu Rei. - E a meus mestres Therquianos, eu pensei em silêncio, e me vi novamente um garoto, de 7 anos, a beira da morte, único ainda vivo de minha tribo, em um passado ainda mais distante do que este que estou, no dia que fui salvo.
"Alterar o tempo é perigoso". Foi a primeira lição de meus mestres. A Liga Galática puniria o Império Therquiano se soubesse o que estávamos fazendo, por isto só teríamos uma chance de agir, apenas um pequeno movimento, com mínimo sinal de interferência.
Era para isto, para este momento, que eu ainda vivia. Salvo e criado como cidadão Therquiano, apenas para voltar novamente ao passado, mas um passado após o meu para evitar um paradoxo, e garantir a derrota da Grécia.
Com a Grécia derrotada, conforme todas as nossas projeções, no ano 2100 da calendário cristão - se é que haveria uma era cristã - a humanidade ainda não teria pisado na lua, e portanto não estaria protegida de absorção pelo Império Therquiano, de acordo com as leis da Liga.
- Praticamente não haverá Espartanos entre os guerreiros no desfiladeiro, meu senhor, e isto fará toda a diferença. Eu influenciei as previsões dos oráculos deles, proibindo-os de enviar seu exército para cá.
- No entanto - o Rei Xerxes parou um instante, depois continuou - no entanto existem alguns espartanos lá embaixo.
Eu rio da ingenuidade do Rei, mesmo sabendo que rir de um Rei sempre é um perigo. - Apenas uma guarda pessoal, nada que faça qualquer diferença nesta batalha. Apenas um punhado de soldados que nem serão mencionados nos livros de história. Posso garantir, meu Rei, que por mais valorosos que sejam, aqueles lá embaixo não são em número suficiente para ter qualquer importância. Dentre eles, de espartanos, não há mais de trezentos.
www.aventuraeficcao.com.br
Era um risco para o império Therquiano, mas um risco que teríamos que correr. Todos os cuidados foram tomados, e, agora, desde que eu não tivesse cometido nenhum erro, a incorporação da Terra no império estaria garantida.
E eu não cometi erros.
Eu olhei em direção ao desfiladeiro a frente, as Thermopylai. Na história que aprendi deste mundo, um passado distante para meus mestres Therquianos, mas o futuro em relação a meu nascimento na terra, aqui iniciaria a derrota de Xerxes e seu exército. Durante dias, milhares de gregos, liderados pelos espartano, deteriam todas as centenas de milhares de soldados do império Persa. O atraso, somado ao impacto na moral das tropas, faria a diferença que resultaria na vitória grega.
Eu garanti ao rei Xerxes que nesta realidade a história seria diferente.
O rei se aproximou, para me consultar uma última vez antes da batalha. Finalmente eu havia conquistado sua confiança, após meses mostrando o valor de minhas palavras.
- Ainda reluto em acreditar no que dizes, enviado dos Deuses. Mesmo com todas as vantagens que o terreno lhes concede, poderiam mesmo alguns poucos milhares de espartanos deter o avanço de meu exército?
- Meu rei, como lhe disse, não há outro exército nesta época que se compare ao de Esparta. Por isto insisti tanto que tentasse de todas as formas que eles não participassem desta guerra.
- Os espartanos são tolos, mas tolos teimosos, e recusaram minhas ofertas.
- Os deuses me mostraram o futuro meu Rei, e embora saiba o quanto minhas palavras o feriram, a verdade é que serias derrotado nesta guerra. Felizmente conseguimos outra forma para garantir que o exército de Esparta não estaria aqui.
- Sem o apoio dos deuses, nenhuma vitória é garantida. Mas vieste para me trazer a visão dos deuses, e também para me garantir a vitória.
- Vivo para servi-lo, meu Rei. - E a meus mestres Therquianos, eu pensei em silêncio, e me vi novamente um garoto, de 7 anos, a beira da morte, único ainda vivo de minha tribo, em um passado ainda mais distante do que este que estou, no dia que fui salvo.
"Alterar o tempo é perigoso". Foi a primeira lição de meus mestres. A Liga Galática puniria o Império Therquiano se soubesse o que estávamos fazendo, por isto só teríamos uma chance de agir, apenas um pequeno movimento, com mínimo sinal de interferência.
Era para isto, para este momento, que eu ainda vivia. Salvo e criado como cidadão Therquiano, apenas para voltar novamente ao passado, mas um passado após o meu para evitar um paradoxo, e garantir a derrota da Grécia.
Com a Grécia derrotada, conforme todas as nossas projeções, no ano 2100 da calendário cristão - se é que haveria uma era cristã - a humanidade ainda não teria pisado na lua, e portanto não estaria protegida de absorção pelo Império Therquiano, de acordo com as leis da Liga.
- Praticamente não haverá Espartanos entre os guerreiros no desfiladeiro, meu senhor, e isto fará toda a diferença. Eu influenciei as previsões dos oráculos deles, proibindo-os de enviar seu exército para cá.
- No entanto - o Rei Xerxes parou um instante, depois continuou - no entanto existem alguns espartanos lá embaixo.
Eu rio da ingenuidade do Rei, mesmo sabendo que rir de um Rei sempre é um perigo. - Apenas uma guarda pessoal, nada que faça qualquer diferença nesta batalha. Apenas um punhado de soldados que nem serão mencionados nos livros de história. Posso garantir, meu Rei, que por mais valorosos que sejam, aqueles lá embaixo não são em número suficiente para ter qualquer importância. Dentre eles, de espartanos, não há mais de trezentos.
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