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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um Estranho Mundo - Capítulo II


Capítulo II

"Em nenhum momento eu percebi qualquer lacuna em minhas memorias. Eu estava demasiado preocupado em sobreviver e entender este estranho mundo para me deter a lembrar o passado. De todo modo, tenho certeza que minha mente habilmente criaria fantasias para completar qualquer lembrança que faltasse. O cérebro humano, mesmo em sua forma pura, é realmente uma ferramenta assombrosa".


  Eu despertei confuso, completamente desnorteado, sem ter a menor ideia de onde estava. Minha cabeça latejava, e quando encostei nela com a mão, senti uma umidade que imaginei ser sangue. Meu punho esquerdo também estava doendo, e minha perna direita. O que tinha acontecido? Uma queda, algum tipo de acidente? Eu estava voando, tenho certeza... Um desastre aéreo?
   Eu olhei ao redor, o espaço era pequeno demais para ser um avião de passageiros, e estava todo destruído. Luzes de emergência iluminavam o ambiente. Um jato particular, talvez.
   Então vi os corpos. E meu cérebro fez a conexão com os nomes. Correia. Resende.
   Não precisava me aproximar para confirmar que estavam mortos. O pescoço de Correia quebrado. Resende foi pior de olhar, o corpo quase dividido em dois. Como eu sobrevivi?
   Eu me levantei de onde estava, uma poltrona, e quase desmaiei enquanto tudo começou a girar ao meu redor. E então vomitei no chão e nas minhas mãos.
   Precisava sair do jato. Podia estar vazando combustível, pegar fogo, explodir... Jato não, era uma nave. Uma nave e estávamos voltando para a Terra. Era difícil pensar, a cabeça estava doendo ainda mais. Concussão, eu pensei.
   Eu me levantei novamente, desta vez mais devagar, vi uma porta, e caminhei até ela. Engraçado, pensei, porque não estava usando um capacete, se estava vindo do espaço? Depois parei de pensar nisto, o que eu precisava era escapar.
   A tontura voltou, e então eu apaguei.

   * * *

   Eu despertei caminhando.
   Foi uma experiência diferente de um simples acordar, minha consciência retornando devagar, como se estivesse lentamente me dando conta de onde estava. Primeiro a sensação dos pés afundando na neve a cada passo, só depois o frio em meu rosto, o ar entrando gelado em meus pulmões. Depois as memorias, a queda da nave, meus companheiros mortos.
   Eu olhei para trás, apenas para ver uma longa trilha de pegadas subindo uma montanha, até se perder de vista, meus pés ainda se movendo mecanicamente, como que sem meu controle consciente. Eu devo ter saído da nave e começado a caminhar como um sonâmbulo, um resultado da batida em minha cabeça, talvez.
   Uma vez mais coloquei a mão na cabeça. O sangue estava seco agora, mas minha cabeça ainda doía. Pelo menos não estava mais tonto.
   Eu parei de caminhar e olhei ao meu redor. Hora de pensar no que estava acontecendo e no que ia fazer.
   O terreno era inclinado, e eu estava obviamente descendo. Havia neve, e algumas árvores. Percebi que parecia haver mais para baixo, eu parecia estar no que seria o limiar de uma floresta. Ao longe, podia ver montanhas, algumas muito mais altas do que onde eu estava. O sol estava em um angulo de talvez 45 graus. Estaria começando ou terminando o dia? No segundo caso, em breve anoiteceria, e imagino que faria muito frio.
   Foi só então que me dei conta de que estava em sério risco. Se já estava tão frio a ponto de haver neve, uma temperatura talvez ligeiramente abaixo de zero, quão frio ficaria de noite? Minha roupa era térmica?
   Olhei para mim mesmo. A roupa era estranha, toda de uma só cor e de um tecido estranho, mas parecia proteger bem do frio. Era a roupa que usávamos na nave, é claro. Nosso uniforme.
   Eu tinha que decidir o que fazer. Voltar para a nave? Havia mantimentos, talvez o rádio funcionasse, eu deveria esperar lá por uma equipe de resgate.
   Então me lembrei. Eu não estava na Terra, não haveria nenhuma equipe de resgate.
   Então continuei descendo, os passos tão mecânicos quanto antes, apenas meu olhar mais atento. Se estivesse terminando o dia, em mais algumas horas estaria tudo escuro, e era melhor aproveitar o tempo.
   Por sorte, o dia estava na realidade começando. Começou a esquentar perto do meio dia, a neve derretendo tornando a descida mas escorregadia, a floresta gradualmente se tornando mais cerrada.
   Algumas horas depois eu parei e sentei ao pé de uma árvore. Estava cansado e com fome. Uma ou duas vezes pensei ter ouvido movimentos de pequenos animais, esquilos ou algum animal equivalente deste mundo. Mas não tive certeza. De todo modo eu não era um caçador, nunca tinha sido sequer um escoteiro. Não tinha a menor ideia de como procurar comida.
   Ainda estava sentado, à árvore, meu pensamento divagando, os olhos querendo se fechar novamente, quanto ouvi sons, como de pessoas se movendo e conversando.
   Eu me levantei e comecei a caminhar na direção dos sons, depois a correr até me deparar com um grupo de cavaleiros no que parecia uma clareira, que, na verdade vi a perceber mais tarde, era na verdade uma estrada.
   Eu os assustei, os cavalos começaram a relinchar e eu estava prestes a dizer para ficarem calmos, que eu apenas queria socorro, quando vi seus rostos. Não eram humanos. Eram amarelos, a pele como se fosse uma pantera.
   Eu estava prestes a gritar, e meu braço direito instintivamente se estendeu, a mão apontando para um deles, por um instante eu tive a sensação de que iria explodi-lo com apenas um gesto.
   E um golpe me atingiu uma vez mais na cabeça. A inconsciência desta vez veio instantaneamente.



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