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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Um Estranho Mundo - capítulo 3

Capítulo III
"Como eu explicava os cavalos? Seria possível imaginar os Lepare como fruto de alguma evolução convergente, e não como primos próximos do homo sapiens. Ainda assim eles seriam obviamente vertebrados, e mesmo mamíferos. Não seria necessário examinar seus ossos, bastava olhar o maxilar, a estrutura dos cinco dedos, os ombros, para perceber que possuíam exatamente o mesmo plano básico de esqueleto dos vertebrados que evoluíram naturalmente na Terra. Mas, sua aparência pelo menos dava um leve ar alienígena a eles. Nas memorias que eu ainda possuía, eu nunca havia visto nada parecido, exceto em filmes de ficção científica. Mas, e os cavalos? Que explicação eu daria para a existência de cavalos, se apenas parasse para pensar neles?"

   - Pelo amor de Deus, ninguém mais bata na minha cabeça - eu falei assim que comecei a despertar, apenas parcialmente sabendo onde me encontrava. A lembrança de uma batida forte me derrubando - uma segunda batida - era a coisa mais presente em minha mente.
   Eu tentei me levantar, apenas para perceber que minhas mãos estavam amarradas atrás das costas, e que minha tontura havia voltado.
   Uma criatura se aproximou de mim, o rosto, que parecia uma mistura de um humano e um felino, quase encostando no meu próprio rosto. Uma menina com pele de um leopardo no lugar de pele humana, foi o que me pareceu. Ela, se de fato era do sexo feminino, falou algo em uma língua que não entendi.
   - Não estou entendendo. Me soltem por favor - comecei a falar, apenas para parar ao me dar conta que não tinha como eles entender o que eu falava. A criatura - a jovem - me vi chamando-a, pois pelo menos pareceria ser uma uma jovem mulher se fosse humana, pareceu mais insistente. Repetiu várias frases em sua língua estranha, até se convencer que eu não a estava entendendo. Foi só quando deixei escapar um gemido, a cabeça ainda latejando, que ela parou e me examinou, passando os dedos pela minha cabeça. Primeiro encostou no lado esquerdo, que estava dolorido com a batida mas não parecia tão machucado, então pelo lado direito, encontrando o sangue seco em meu cabelo. Ela falou em sua língua incompreensível com alguém que eu não consegui ver, e então olhou fixamente para mim e pareceu se concentrar em alguma coisa.
   Ela então começou um estranho movimento com as mãos, os dedos mostrando uma destreza inesperada, como se estivessem encostando com a ponta em objetos invisíveis, enquanto repetia palavras indecifráveis, mas que me pareciam estranhamente familiares, uma segunda língua diferente da que ela falara antes, uma palavra para cada movimento de um dedo. Ao final, as pontas de quase todos os seus dedos pareciam brilhar suavemente, e ela encostou as duas mãos em meu rosto.
   Uma sensação de formigamento começou a tomar conta de toda minha cabeça, e percebi no mesmo instante que minha dor havia desaparecido. Meu rosto todo parecia anestesiado, e a tontura foi diminuindo.
   Em seguida, ela repetiu novamente o estranho ritual, que desta vez prestei ainda mais atenção. Os movimentos pareciam semelhantes, mas não exatamente iguais, como se estivesse tocando em outros objetos invisíveis. Eu pude perceber que seus olhos - olhos verdes que poderiam perfeitamente pertencer a uma jovem humana - estavam olhando para cima enquanto ela movia os dedos com fluência e repetia palavras em sussurros, e tive a nítida impressão que estava lembrando uma sequência memorizada. Por fim, ela repetiu o mesmo processo, encostando novamente os dedos em meu rosto. Desta vez, porém, a sensação de formigamento, que já havia desaparecido, não retornou.
   - Está feito - ela falou, enquanto se levantava com a graça de um felino - em algumas horas conseguiremos falar com ele.
   "Eles falam português". Foi meu primeiro pensamento, e imediatamente percebi que não, que ela havia falado na mesma linguagem de antes, mas eu consegui entender o que ela disse.
   - Tem certeza que ele não fala Talodon?  - a voz era em um timbre mais grosso, e imediatamente associei com um adulto do sexo masculino. Eu percebi que, embora conseguisse entender o que ele havia dito, a língua em si permanecia um mistério. Era como se houvesse um tradutor automático me repetindo o que ele dizia, pelo menos foi a comparação mais próxima que consegui imaginar.
   - Tenho. Ele só tem uma língua nativa, e parece conhecer uma segunda língua, mas não é tão fluente nela. Nenhuma delas me parece familiar. Acho que vai levar horas para eu conseguir entender o que ele fala. Deve levar o mesmo tempo para ele entender o que falamos.
   Eu pensei em dizer alguma coisa, mas então resolvi ficar em silêncio. De alguma forma, ela me curou e me fez entender o que eles falavam, mas parecia achar que ainda iria levar horas para que funcionasse.
   - Faça-o se levantar, então. Ainda quero voltar para o acampamento antes do anoitecer. - Eu quase tentei me levantar quando ouvi, mas me dei conta que eles achavam que eu não entendia o que falavam. A jovem, de todo modo, pegou meu braço, e com sua ajuda eu me levantei. Só então consegui ver a quem pertencia a voz.
   O homem, não um homem obviamente, mas era mais fácil pensar nele assim, possuía um cabelo encaracolado, parecendo um pouco a juba de um leão, que descia pelos ombros, e uma musculatura impressionante, mas não descomunal. Seu rosto e corpo, como ela, pareciam a pele de um leopardo, mas quase sem manchas, quase só um amarelo, com uma poucas marcas escuras. Vestia apenas calças que pareciam o pelo de algum animal, e tinha uma espada na cintura. Havia outros também, mas alguns passos mais distantes, todos próximos de ou montados em cavalos.
   Imaginei que ficaria tonto ao levantar, mas me sentia extremamente bem. Não apenas a dor e tontura haviam passado, mas me dei conta que quase não sentia fome e frio, como antes.
   - Vamos - a jovem disse, e novamente tive que me esforçar para não reagir a sua fala, e só comecei a caminhar quando ela me conduziu pelo braço, minhas mãos ainda atadas às minhas costas.

2 comentários:

  1. Pelo que vejo trabalhamos na mesma linha literária de ficção, dá uma olhada nestes links, com especial atenção ao último e veja o trabalho coletivo no qual estou engajado.

    http://www.escritorjchesse.blogspot.com.br/
    http://clubnovosautores.blogspot.com.br/

    Abraço,
    J.C.Hesse

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  2. Olá! Te indiquei numa tag no meu blog ;)

    http://geek-pop.blogspot.com.br/2013/02/tag-para-saber-mais-sobre-o-blog.html

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