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sexta-feira, 8 de junho de 2012

O Último Rei Orco XXII

Ele achou que havia tirado sua voz quando cortou sua lingua, mas ela já não tinha voz, ela já a havia perdido quando bebeu Nectar, assim como seu irmão perdeu sua visão quando Nectar foi derramado em seus olhos. A voz que o Não Rei dos Orcos achou que era sua era a voz de JUS PATER, e JUS PATER não era seu deus, nem nunca foi.

Ela não tinha voz, ela só tinha o silêncio como arma.

Os Orcos a haviam esquecido, quando as muralhas cairam. Ela era apenas uma criança, e eles tinham jovens e mulheres para escravizar e abusar, que lhes trariam muito mais diversão.

Assim, ninguém pareceu se lembrar dela, e, após ficar deitada, imóvel, bem onde o Não Rei dos Orcos a largou, ela se levantou ao ver que não havia ninguém por perto, todos tendo corrido em direção a cidade indefesa, e caminhou até a pequena floresta. Não foi difícil encontrar um buraco no meio da raiz de uma grande árvore, e se esconder até a noite chegar. Nem teria sido necessário, pois nenhum Orco procurou por ela.

Ela deveria estar chorando pelo seu irmão, pelo seu pai que ela tinha certeza que a esta altura estaria morto, pelo que fizeram com sua mão, sua lingua. Mas era como se um grande frio estivesse dentro dela. Não como quando J-VA ocupou o espaço de sua mente, não havia ninguém com ela agora, ela estava absolutamente sozinha, na escuridão. Mas nada, nem a dor, nem a raiva, a tocava neste instante.

Ela apenas aguardava a noite chegar. Havia algo para ser feito.

O sol por fim se pôs, e a escuridão se espalhou pela terra. E ela voltou para as ruínas de Assikli Hoyuk, e começou a procurar. Não por sobreviventes, não por seu pai, nem mesmo por Sharazin, que talvez ainda estivesse viva. Ela procurou por algum Orco sozinho, que estivesse suficientemente bêbado e isolado dos demais.
Ela teria preferido o próprio Não Rei dos Orcos. Ela não tinha mais medo dele, ela estava além do medo. Mas, o que quer que ele fosse - Não o Rei dos Orcos, Não Makel - em que quer que tivesse se transformado, ela sabia que não teria chance de lhe fazer mal esta noite.

Não foi difícil caminhar pela cidade, pois não havia ninguém vigiando. As casas haviam sido saqueadas, destruídas, algumas mulheres foram levadas para dentro do castelo. Os demais, homens, mulheres, crianças, estavam mortos, e seus corpos estavam em todo lugar. Os Orcos estavam espalhados também, bêbados e dormindo, em sua maioria.

Também não foi difícil encontrar uma faca afiada o suficiente para o que ela iria fazer.

O Orco que ela encontrou estava sozinho, dormindo com uma espada ainda na mão. Uma visão deformada de um verdadeiro homem, grande demais, cinco dedos nas mãos, pele clara, dentes brancos na boca aberta. Ele roncava.

Ela só tinha a mão direita para segurar a faca, a esquerda uma visão que ela não queria olhar, pele enegrecida, destruída pelo fogo. Mas só uma mão seria suficiente. Com firmeza, em um golpe rápido, ela fez um profundo corte em seu pescoço. Por sorte, ele não conseguiu gritar antes de morrer. De outro modo ela teria que fugir e tentar novamente.

Ele morreu em silêncio. Então, ela cravou a faca no peito do morto, e pôs-se a cortar, até tirar seu coração para fora.

JUS PATER exigia que cantassem em altas vozes em louvor a ele, assim como V-NU, e mesmo o J-VA dos Orcos. Mas, ela não previsava de uma lingua para orar para seu deus. Ele sempre preferiu suas preces em silêncio, pois silêncio era seu reino, e dos que o seguiam.

Assim, ela não precisou falar quando ofereceu o coração do inimigo vencido. Ela só precisou pensar no nome, o nome verdadeiro de seu deus, o deus chacal que chamavam de N-BIS.

Enquanto oferecia o coração, ela só precisou pensar em seu nome secreto: "Anubis".

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